A 27ª Semana da Justiça Pela Paz em Casa, realizada de forma inédita na comarca de Cavalcante, visitou quatro comunidades kalungas e contou com a participação de cerca de 200 moradores que vivem nos locais. Nesta quinta-feira (22), os trabalhos conduzidos pela vice-coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica do TJGO, juíza Érika Barbosa Gomes Cavalcante e pelo juiz da comarca de Cavalcante, Leonardo de Souza Santos, encerraram com uma roda antirracista, na comunidade Kalunga Riachão, na Chapada dos Veadeiros, e com participação de dona Procópia dos Santos Rosa, de 91 anos.

Vó Procópia ou Iaiá, como é chamada, é descendente de escravos e nasceu na comunidade, lugar onde vive até hoje na companhia da neta, Bia Kalunga. Em 2005, a mulher que não sabe ler e escrever, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz pela luta em prol dos territórios e dos direitos dos kalungas. Com falas curtas e dificuldade de ouvir, ela conta que conseguiu impedir a construção de uma barragem, no Rio Paranã, que alagaria boa parte do território Kalunga. “Com educação, respeito e sabendo tratar bem as pessoas”, disse ao afirmar como conseguiu ser reconhecida e indicada ao Prêmio.

Apesar de já sentir os efeitos da idade na memória, Procópia contou que aqueles que defendiam a barragem só pensavam nos investimentos que já haviam feito na região. "A cabeça tá ruim demais. Mas sei que eles falaram para mim que eles não podiam perder o dinheiro que já tinham gastado na barragem. Daí eu falei: muito bem, vocês que tem condição não podem perder o dinheiro e nós que moramos mais de 200 anos em nossas terras e vocês querem tirar da gente? Nós vamos para onde? Onde é que nós vamos ficar?”, relatou. São várias as histórias que a matriarca conta. Hoje, com dificuldade de andar e de escutar, ela fez questão de detalhar o que lembrou em seus mais de 90 anos de vida. “Eu não sei ler e nem escrever. Meus filhos tinham documentos antes de mim. Antes isso aqui não tinha estrada e nem energia. Era só mato”, relatou.

Segundo a vice-coordenadora da Coordenadoria da Mulher, juíza Érika Barbosa, as rodas de conversas dentro das comunidades contribuem para a valorização da cultura e da história da mulher quilombola. “É uma realização muito grande pensar que estamos conseguindo dialogar dentro da comunidade, incluindo pessoas tão relevantes para a história do povo goiano a e do povo kalunga”, frisou, ao citar a Dona Procópia. “Ela é uma liderança ancestral da região e uma pessoa que também reconhece outros kalungas. Poder tratar sobre assuntos como a violência contra a mulher e a história do povo kalunga valoriza ainda mais essa cultura”, pontuou.

Presença 

O juiz Leonardo Santos afirmou que ir até ao território kalunga e conversar com os moradores é fundamental para a percepção da realidade vivida por eles e contribui para aproximar a população do Poder Judiciário. “Estar aqui no território faz toda diferença. Ouvir e conversar com as pessoas é fundamental para essa compreensão e, assim, num esforço coletivo tentar construir ações para conseguir o acesso à Justiça e aos direitos fundamentais”, observou.

Para o presidente da Associação Quilombo Kalunga, Carlos Roberto Pereira da Conceição, a iniciativa do Tribunal de Justiça de Goiás em estar presente no território faz com que todos se sintam reconhecidos. “Estar na agenda do TJGO nos deixa orgulhosos. Nosso território é grande e populoso. Porém, ter vocês vivendo um pouco da nossa realidade nos deixa com mais vontade de lutar pelos nossos direitos”, enfatizou. Segundo ele, nas 39 comunidades quilombolas, distribuídas nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, vivem cerca de 8,4 mil pessoas.

Rodas Antirracistas
No Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), a Semana Justiça Pela Paz em Casa é realizada pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar e, nesta edição, conta com a parceria da Coordenadoria da Infância e Juventude do TJGO, que também participou das rodas antirracistas, na quarta e quinta-feiras.


Também participaram da roda na comunidade Riachão, as servidoras Daniele Rodrigues e Mara Cristina, da Coordenadoria da Mulher e Carla Paiva, da Coordenadoria da Infância. Ainda nesta quinta-feira (22), foi realizada uma roda de conversa com os moradores e alunos da comunidade Tinquezal pelas servidoras Lucelma Messias e Morgana Santos, coordenadoria da Mulher e pela servidora Valéria Faleiro, da Coordenadoria da Infância. Confira galeria (Texto: Arianne Lopes / Fotos: Acaray Martins - Centro de Comunicação Social do TJGO)

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