“Mulheres Negras em Movimento” foi o tema da roda de conversa realizada, nesta terça-feira (5), entre as escritoras e poetisas Carla Oliveira, Lara Khyshna e Mel Gonçalves, como parte da programação da Semana de Arte e Sabedoria Jurídica Negra (Sabawona). A mediação foi feita pela juíza Érika Barbosa Gomes Cavalcante, da Vara Criminal da comarca de Goiás e idealizadora do Projeto Roda Antirracista no âmbito do Poder Judiciário do Estado de Goiás. O evento está sendo realizado pelo Comitê de Igualdade Racial e a Escola Judicial (Ejug), no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).

Mel Golçalves, que se define como “multiartista, mulher, negra, obesa, feminista, karateca, atriz, palestrante, pesquisadora e mentora de teatro”, iniciou sua fala ressaltando o preconceito, ainda muito existente, na literatura produzida por pessoas pretas no Brasil. “Infelizmente, muitas vezes, o amor nos é negado por sermos negros. Nosso amor é invalidado, não é considerado. Somos tidos como ralé ou apenas objetos, sexualizados, objetificados, negligenciados”, criticou.

Segundo Mel Golçalves, é preciso valorizar e garantir oportunidades a autoras(es) e escritoras(es) pretas(os) no Brasil. “Queremos ser equivalentes no respeito, no bom trato, no carinho, na igualdade de oportunidades. Porque muito nos foi negado. Nossa ancestralidade nos foi negada. O amor da nossa história é constantemente apagada. O amor das nossas raízes, da nossa fé sempre demonizada e isso precisa acabar. Precisamos acreditar em quem nós somos. Precisamos encontrar nosso lugar de respeito. Precisamos lutar para sermos vistos direito”, afirmou.




Autoconhecimento

A historiadora, pesquisadora, empreendedora e escritora Carla Oliveira falou sobre seu processo de reconhecimento e aceitação como mulher preta e escritora. Segundo ela, sua trajetória tem sido marcada pelo autoconhecimento e enfrentamento ao preconceito para conseguir expressar sua literatura. “Quando a gente começa a trazer as nossas experiências, as nossas vivências para a escrita, a gente se afasta muito dos clássicos, muito de uma literatura dita como certa, muito daquilo que é ensinado dentro das academias. Na hora de escrever, eu não queria seguir aquele rigor, eu queria seguir aquilo que estava saindo do meu coração. Então, foi um movimento de resistência interna para entender o meu estilo de escrita”, ressaltou.

Durante a troca de experiências entre as palestrantes, Lara Khyshna, que é rapper, estudante de engenharia mecânica, modelo, artista e técnica em manutenção automotiva, destacou episódios de preconceitos vivenciados desde a infância em sua comunidade, além dos vividos até hoje em sua carreira artística. Para ela, escrever e compor canções são uma forma de protestar contra esse preconceito. “A escrita, para mim, é como uma terapia. Geralmente, eu escrevo sobre vivências e acontecimentos cotidianos. A mensagem que estou passando, de luta da mulher negra periférica, é importante e precisa chegar o mais longe possível. O rap é uma forma de protesto contra todo tipo de preconceito e injustiças”, pontuou.


Racismo Ambiental

Na sequência, o servidor público do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) Emerson Rodrigues de Oliveira, assessor jurídico e presidente da Comissão de Ética e do Processo Administrativo, abordou sobre o “Racismo Ambiental: os kalungas e a resistência ecológica”. Na ocasião, ele debateu as práticas que levou os negros a sofrerem mudanças climáticas em razão a qualquer outra sociedade.


 
Na palestra, Emerson Rodrigues destacou a relevância em trazer as temáticas negras neste período para despertar sobre o racismo ambiental. Ele ressaltou que existem diversas comunidades negras que sofrem a consequência ambiental como falta de água e acesso a serviços de saneamento básico. O servidor contou que, nas comunidades em geral, o investimento ocorre para outros setores, tais como agronegócio e turismo, menos para as comunidades Kalunga.


 
De acordo com ele, a iniciativa em reverter essa prática é a informação e a tomada de consciência e educação. “O Poder Judiciário já está difundindo essa informação, comunicando essas questões. Outro detalhe é de que as pessoas negras precisam buscar seus representantes para que políticas sejam adotadas nessas regiões”, finalizou.




Ladainha

Durante a programação, crianças, servidores e magistrados acompanharam a apresentação do espetáculo teatral infantojuvenil coletivo 22, chamado Ladainha, com direção do Núcleo Coletivo 22, tendo à frente Renata Kabilaewatala, com o objetivo de despertar a atenção a cultura negra e da capoeira. O Núcleo 22 iniciou suas atividades em 2001, em Campinas (SP), onde expandiu as atividades para São Paulo. Ao todo, são 11 integrantes, sendo que duas delas se apresentaram no espetáculo realizado no TJGO, como Lorena Fontes e Vinicius Bolivar. (Texto: Sarah Mohn e Acaray Martins / Fotos: Wagner Soares – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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