A vontade de recomeçar e o esforço diário para que os erros do passado não se repitam fazem parte da rotina do reeducando *João (nome fictício), de 45 anos. E foi pensado nesses recomeços que a juíza da 1ª Vara Criminal da comarca de Águas Lindas de Goiás, Cláudia de Andrade (foto acima), assinou, nesta quarta-feira (23), termo de cooperação firmando parceria entre o Poder Judiciário, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) e o município de Águas Lindas de Goiás, por meio da Secretaria de Políticas de Alternativas Penais para que os reeducandos do sistema prisional do município participem do Programa Trilhando um Novo Caminho, que visa oportunizar aos reeducandos a ressocialização por meio do trabalho.

A magistrada lembrou que há 12 anos está à frente da vara criminal e execução penal da comarca e afirmou que o projeto dá oportunidade àqueles que um dia cometeram crimes, violaram a lei e estão aptos, com interesse e vontade de ressocializar. “O fato é que todos aqueles que estão encarcerados, mais cedo ou mais tarde, voltarão para a sociedade. Não basta encarcerar é preciso reeducar. Precisamos colocar na mente dos reeducandos que é possível sim voltar à sociedade e ter uma vida digna. E nós entendemos que isso é possível por meio do trabalho”, pontuou. “Que os apenados aproveitem a oportunidade de recomeçar”, acrescentou.

Ao abordar os benefícios do projeto para Águas Lindas de Goiás, a juíza  salientou que a população, a partir de agora, receberá bens públicos de uso comum reformados e em bom estado para o uso. “Vocês terão a possibilidade de utilizar esses bens públicos que foram revitalizados pelos nossos reeducandos, que estão em processo de reinserção social”, disse, ao enfatizar que a iniciativa “é algo sonhado e que estava no coração de todos os envolvidos".

O diretor-geral da DGAP, Josimar Pires Nicolau, salientou que a execução do programa só foi possível devido à união dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e destacou ainda a importância do trabalho para a ressocialização dos reeducandos. “Hoje os detentos estão tendo a oportunidade que muitos nunca tiveram. Só assim vamos conseguir chegar à nossa missão, que é transformar a vida das pessoas por meio da ressocialização com a ajuda de todos que aqui estão”, afirmou, ao completar que o projeto colabora também com a entrega da segurança pública para a sociedade. “Temos que devolver a esta sociedade pessoas melhores do que elas entraram”, encerrou.

Segundo o prefeito de Águas Lindas, Lucas de Carvalho Antonietti, o Programa Trilhando um Novo Caminho é resultado também da união de esforços dos parceiros, inclusive do Poder Judiciário local. “A juíza Cláudia Andrade abraçou a iniciativa. É louvável ver a senhora sair e se juntar a nós nessa missão”, disse. Para ele, a solenidade significa a consolidação e criação de políticas públicas eficazes em prol da reintegração social. “Não estamos e não queremos julgar ninguém, pelo contrário, queremos ajudá-los”, frisou.

Recomeço
*Francisco (nome fictício) participa do programa e vê a iniciativa com o olhar de recomeço. Segundo ele, a vida que teve antes de ser preso não o orgulha, mas ele enxerga agora a iniciativa como uma oportunidade de fazer diferente. “Sei que a vida para nós, fora da cadeia, exige coragem. Queremos pagar por tudo que fizemos de errado, mas também queremos a oportunidade de recomeçar. Quero voltar para a rua de cabeça erguida”, relatou.

O detento *João, que também participa do programa desde o início, é encarregado de obra e já trabalhava na área antes de ser preso. Preso há 4 anos e 6 meses, ele, que é mestre de obras, se tornou o responsável por coordenar a equipe que participa do programa. “Além ser bom para nós aqui dentro, nos ajuda até com o preconceito. As pessoas veem a gente trabalhando e nos respeitam. Sei que é um passo para seguir a adiante”, contou.

Assim como *Francisco e *João, outros 27 reeducandos ajudam a revitalizar praças, limpar a cidade e entre outros trabalhos. E foi assim com a Praça Pérola II, local que estava abandonado e há 12 anos não passava por nenhuma reforma. Hoje, o local está totalmente diferente do que era antes. “Agora a gente pode brincar aqui. Eu venho quase todos os dias para cá”, disse, um menino de 10 anos que estava na praça com um colega jogando bola.

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Sobre o trabalho
De acordo com a juíza Cláudia de Andrade, reeducandos que participam do projeto têm a oportunidade de remir sua pena, já que a cada três dias trabalhados, um dia de pena é diminuído. Ainda segundo ela, o trabalho dos reeducandos é remunerado com um salário-mínimo. Segundo a magistrada, o programa está em execução há dois meses e participam atualmente 22 reeducandos do semiaberto e aberto e 7 do sistema fechado que trabalham sob escolta policial. Os detentos revitalizam praças, quadras, gramados, jardins, meios-fios, entre outros aparatos públicos de uso da população.

O secretário municipal de Políticas de Alternativas Penais, Jaime Silva, destacou que, mesmo iniciado a pouco tempo, o programa já traz resultados positivos. “Já temos praças que foram totalmente revitalizadas e a população já está usufruindo”, contou, ao afirmar que são 300 vagas destinadas ao programa e que a expectativa é que sejam preenchidas uma grande parte nos próximos meses. Veja galeria

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