Uma mulher com 16 filhos conseguiu, nesta sexta-feira (30), último dia do Justiça Itinerante em Monte Alegre de Goiás, o salário-maternidade, concedido em audiência realizada pela juíza Érika Cavalcante. O benefício é referente a apenas uma de suas filhas, Analice Correia Xavier da Silva, hoje com quatro anos.

Jucelina dos Remédios Xavier da Silva, lavradora de 45 anos, foi uma das centenas de beneficiadas pela segunda edição do projeto Justiça Itinerante, idealizado pelo chefe do Poder Judiciário estadual, desembargador Carlos França, para ampliar o acesso à Justiça em comunidades distantes dos centros urbanos. Além dos 14 filhos biológicos, Jucelina, apesar da pobreza, da fome, da moradia precária e da ausência de saneamento básico, não titubeou quando encontrou perdidas mais duas crianças que foram abandonadas pela mãe biológica e as adotou.

A sobrevivência da família, que vive no assentamento Atalaia, a cerca de 15 quilômetros de Monte Alegre, se deve à agricultura de subsistência, criação de galinhas e pequenos bicos, cujas diárias valem de 30 a 40 reais. Além disso, uma das filhas, Maria Júlia, de 11 anos, recebe o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência. “A vida é muito dura. Falta tudo. Comida, roupa para os meninos, não tenho banheiro, tudo é lavado na mão, com água que eu busco longe”, relatou ela, que ao ter o benefício concedido, abraçou a magistrada, emocionada com a possibilidade de ter uma vida melhor.

“Fora a cama que é da minha filha, onde ela dorme com minha neta, só temos um colchão de solteiro, onde três meninas deitam, e uma cama, onde eu durmo com a neném, de quatro meses. O resto dorme tudo no chão e aqui faz muito frio”, contou Jocelina, que, com a concessão do benefício, já faz planos para comprar comida, outras camas, roupas para as crianças, carentes de objetos pessoais, brinquedos e remédios, e para terminar de reformar a casinha, que e ela e marido levantaram com a ajuda de terceiros e o pagamento retroativo de uma aposentadoria por invalidez, cortada em 2016.

Como não pôde estudar, em razão da cegueira de um olho – resultado de uma perfuração em decorrência de uma queda com uma tesoura na mão ainda bebê – Jocelina é exigente com as notas dos filhos e não se contenta com médias como 6 ou 7. Ela só pôde frequentar a escola por um curto período, pois além de ter dificuldade para ver, a família carecia de seus serviços e logo a escola fechou. “Eu fui para escola, mas não aprendi nada. Acho que se tivesse ido, minha vida seria diferente”, disse.

Sempre sorrindo, Jocelina que vestia saia jeans, sandálias havaianas e blusa de malha conseguidas por uma de suas filhas mais velhas e que já saíram de casa, contou que seu sonho é ter um tanquinho de lavar roupa “e as coisas para dar para os seus filhos”. Como a dificuldade é grande, no café da manhã as crianças já comem o arroz e feijão que também servirão de almoço e “sempre falta alguma coisa”.

Feijão e palma

A falta, aliás, é tão grande que, segundo seu advogado, Thiago Piu, que a conheceu em 2013, a casa da família nesta época era uma tapera e era comum eles terem apenas feijão e palma para comer. “Quando a conheci, ela topou me mostrar a região, acompanhada de uma filha pequena. Paramos numa chácara e o dono nos convidou para almoçar. Eu comi e a filha dela também, mas ela se recusou. Intrigado, eu a questionei e ela disse que não tinha coragem de comer enquanto seus filhos estavam em casa sem nada”, relatou. Desde então ele decidiu a ajudá-la.

Previdenciário
A audiência de Joscelina foi uma das 80 previdenciárias realizadas em Monte Alegre, pelos juízes Érika Cavalcante e Gabriel Lisboa, e em Campos Belos, pelos juízes Carolina Gontijo Oliveira, Victor Alvares Cimini Ribeiro e Leonardo de Souza Santos, além daquelas de Família e Conciliação. Em Monte Alegre, além das audiências, a população contou com serviços de parceiros do Justiça Itinerante. Em Campos Belos, por ser a comarca sede, três magistrados e dois conciliadores fizeram um mutirão de audiências, que atraiu cerca 400 pessoas ao fórum da cidade nos dois dias de evento.

A família de Nivardo Pereira dos Santos, de 56 anos, passou por uma audiência para conseguir a tutela da filha autista, Maria dos Remédios, de 19 anos. Antes, a tutela era da mãe dela, que morreu há três meses. Sem a mulher para cuidar da moça, ele ficou impossibilitado de trabalhar e precisava da transferência para receber o benefício da menina. “Não posso trabalhar mais, pois sou eu que dou café, almoço, janta, banho. O dinheiro vai ajudar muito, porque ela precisa de fraldas e medicamentos”, contou. 

Inovação
O Programa Justiça Itinerante do TJGO, que faz parte da Meta 9 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), “estimular a inovação no Poder Judiciário (todos os segmentos)”, é feito com a participação colaborativa de diversos parceiros, como a Justiça Federal, Ministério Público, as Defensorias Públicas do Estado e da União, Governo do Estado de Goiás, Tribunal Regional Eleitoral, Polícia Civil, Instituto Nacional do Seguro Social e as prefeituras de Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás. (Texto: Aline Leonardo/ Fotos: Cecília Araújo- Centro de Comunicação Social do TJGO)

 

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