Em 2019, com apenas 24 anos, Larissa Francisca da Silva foi espancada por um primo do ex-marido na cidade de Goiás. O homem, sabendo que ela entraria na justiça para tentar reaver o filho, levado pelo ex-marido e pela mãe dele, a atraiu para uma estrada de chão onde a agrediu com socos e pedradas. Ela teve o rosto deformado, os dentes quebrados e precisou ficar 17 dias internada, dos quais 7 na UTI. O caso aconteceu em agosto de 2019 e, além da lembrança triste desse dia, Larissa carrega diversas cicatrizes no rosto, pescoço e costas.

Larissa é uma das 17 selecionadas pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar que participou da segunda etapa do Projeto Recomeçar, que tem o objetivo de viabilizar cirurgias plásticas reparadoras em mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica. Neste sábado (24), às 9 horas, no Centro Médico do TJGO, essas mulheres passaram por avaliação médica para decidir quem está apta para a realização das cirurgias.

As vítimas, vindas de cidades como Jataí, Aparecida de Goiânia, Nova Crixás, Quirinópolis e Formosa serão avaliadas por chefes das áreas de cirurgia plástica e residentes da Universidade Federal de Goiás (UFG), Hospital das Clínicas de Goiânia; Hospital Geral de Goiás (HGG) e Santa Casa, nos consultórios do Centro de Saúde do TJGO. As selecionadas farão agora os exames médicos e devem fazer as cirurgias daqui a um mês.

O Projeto Recomeçar é resultado da parceria entre o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) e da Fundação Instituto Para o Desenvolvimento do Ensino e Ação Humanitária (IDEAH), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), que, nesta segunda etapa, ganhou o reforço das secretarias municipal e estadual de Saúde, além da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS) e Organização das Voluntárias de Goiás.

“Nessa nova etapa, nós já contamos com a experiência, sabemos da dificuldade que representa para essas mulheres o enfrentamento das sequelas e o que isso impacta na vida delas. Então, acredito que a gente chega nessa segunda fase do Projeto Recomeçar mais preparados para o acolhimento, principalmente emocional dessas mulheres”, afirmou a juíza auxiliar da Presidência Sirlei Martins da Costa (foto acima), que, em nome do presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, desembargador Carlos França, agradeceu a toda equipe de cirurgiões que tornaram possível a realização de mais essa fase do projeto, na pessoa do presidente da Fundação, o cirurgião Luciano Chaves (foto abaixo).

De acordo com o médico, graças à sensibilidade do presidente do TJGO, desembargador Carlos França, o Projeto Recomeçar hoje está sendo ampliado para todo o País. Distrito Federal e Mato Grosso do Sul já assinaram o convênio e Sergipe, Tocantins, Minas Gerais e São Paulo já estão em fase avançada de negociação. No ano passado, o desembargador Carlos França, após ser apresentado à ideia da parceria, se mobilizou de maneira a assinar o termo de cooperação apenas dez dias depois, na presença de todos os presidentes de tribunais de justiça do País, uma vez que havia um encontro do Colégio de Presidentes de Tribunais – hoje presidido por ele – sendo realizado nas dependências do TJGO.

“O projeto piloto em Goiás foi determinante. O TJGO, na presença de seu presidente, desembargador Carlos França, abraçou o projeto e nos deu a real possibilidade de tornar o projeto concreto. Isso foi para a mídia nacional e isso deu velocidade para a assinatura de novos convênios. Essa segunda etapa aqui é a consolidação desse projeto, que é grandioso e o quanto isso impacta a vida dessas mulheres. Viramos páginas de mulheres tristes para mulheres felizes e com autoestima”, afirmou o médico Luciano Chaves, para quem o Recomeçar cria “rastros de benefícios, uma vez que reestrutura a vida de mulheres e também de suas famílias.

Presente
De todas as pacientes examinadas, três não tiveram recomendação cirúrgica e as outras farão agora os exames necessários para as operações. Marília de Oliveira Santos, que completou 39 anos neste sábado, afirmou que a indicação para o enxerto nos olhos é um presente “maravilhoso” de aniversário. Ela perdeu o olho depois de ser agredida com um murro pelo então namorado. “Uso óculos para disfarçar. Agora, vou começar uma nova etapa, vou olhar no espelho e ter mais ânimo para recomeçar”, contou. Larissa, que usa franja para cobrir as cicatrizes na testa, olho e boca já está ansiosa para passar pela cirurgia no rosto e remover as marcas da agressão que sofreu. “Estou ansiosa, acho que minha autoestima vai ficar lá em cima”, relatou.

Médicos parceiros
Além dos chefes da Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, Paulo Renato de Paula; do HGG, Carlos Gustavo Lemes Neves, representando Sérgio Augusto da Conceição, e da Santa Casa, Gheisa Moura Leão, 15 residentes, dos quais cinco de cada serviço, participaram da triagem.

 

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