Simplicidade, humildade, senso ímpar de humanidade e justiça, conduta ilibada, jeito  sereno e ponderado, sorriso meigo e vocação nata para a magistratura. Características incomuns e raras em um ser humano mas que se unem com perfeição quando se trata do desembargador José Lenar de Melo Bandeira.

Em razão da sua aposentaria compulsória, que ocorrerá no dia 30 deste mês, quando completará 70 anos, a Seção Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), durante sessão realizada nesta quarta-feira (3), procedeu uma homenagem a José Lenar que começou com a fala emocionada do desembargador  Luiz Cláudio Veiga Braga, presidente da Seção Criminal e seu colega de longa data.

“Além de um gestor ousado que teve coragem de lidar de frente com problemas de toda ordem enquanto presidente deste Tribunal, sempre atuou com destemor, de cabeça erguida, ajudando a construir a mais bela página do Poder Judiciário pelo seu zelo constante com a casa da Justiça, pela sua conduta impecável. Esse Tribunal hoje se ressente de perder um homem que fará falta não só para o Judiciário, mas para toda a sociedade, pois sua figura humana será sempre imortal em nossos corações”, enalteceu.

Com a voz embargada e tomado por grande emoção, José Lenar disse com a simplicidade e a ausência de vaidade que lhe são inerentes não ser “digno” de tantas palavras bondosas e gestos de carinho e afirmou que cada pequena afirmação de conforto e apoio expressada pelos colegas e amigos presentes à sessão tocaram profundamente sua alma e ficarão marcados em seu coração pela eternidade. “Não posso ser credor de tanta generosidade, mas sempre procurei ser justo, tentei fazer a minha parte com honradez, dignidade e sensatez. Se não pude engrandecer essa casa como gostaria, também não a diminui, pois estou certo do meu dever cumprido. Passei madrugadas meditando cada processo e sempre corrigi pessoalmente cada um deles com toda a correção e imparcialidade possíveis”, destacou.

Lenar também lembrou com carinho e apreço a forma como o trabalho e os 49 anos dedicados à função pública se tornaram um refrigério na sua vida e o ajudaram a enfrentar momentos de grande angústia e provações. “Hoje se extingue um tempo fundamental na minha vida, pois na verdade o trabalho é a minha vida. E me ajudou a superar problemas e aflições. Já a minha conduta pessoal sempre foi pautada pelo respeito. Sempre procurei respeitar e ser respeitado. Busquei ser humilde, aprendi a ouvir, a corrigir erros, pois a lição que tirei da vida é que somente agindo dessa forma encontrei o caminho que me leva à verdadeira paz, tão almejada por todos nós”, encerrou.

Já o desembargador Ney Teles de Paula relembrou os tempos difíceis enfrentados por Lenar enquanto presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO). “Lenar rompeu casulos e ousou de uma maneira espetacular colocando a casa em ordem. Esse grande homem e magistrado é um exemplo para todos nós”, enfatizou. O desembargador Leandro Crispim, que, durante a sessão, foi eleito por unanimidade pelos colegas para presidir a Seção Criminal no próximo biênio, a partir de fevereiro de 2012, também agradeceu a convivência com José Lenar, mas afirmou que preferia fazer um pronunciamento de despedida do colega na Corte Especial. “Agora faço minhas as palavras de todos os colegas com relação a essa figura tão nobre”, disse.

Lições de sabedoria

O brilho, as lições de sabedoria deixadas por Lenar, o vigor para o trabalho, a dedicação extrema à judicatura foram alguns dos pontos ressaltados pelo desembargador Itaney Francisco Campos. “A trajetória impecável de Lenar, seu brilho próprio, seu compromisso com a verdade e a justiça, sua simplicidade tão marcante, são sua raízes. O fato de José Lenar deixar o TJ também o empobrece, já que não se trata apenas de um excelente julgador, mas de um homem com qualidades humanas raríssimas, de grande quilate”, pontuou. O sentimento de pesar foi expressado pelo desembargador Ivo Fávaro que lembrou a época em que Lenar foi ovacionado por todos os servidores do Poder Judiciário antes de deixar a presidência do TJGO. “Esse foi um feito histórico, nunca havia acontecido antes. Jamais um chefe do Poder Judiciário foi aplaudido de pé por servidores que tinham até lágrimas nos olhos”, frisou.

Sem conseguir conter a emoção, a desembargadora Avelirdes Pinheiro de Lemos deixou que as palavras fluíssem naturalmente. “Só posso dizer do vazio imenso que sentirei com a ausência do desembargador Lenar. Sua alegria, suas brincadeiras e alto astral constantes sempre nos farão falta”, observou. Para o desembargador José Paganucci Júnior, o maior orgulho é ter Lenar como padrinho. “Tenho a honra de poder chamar essa pessoa fantástica de meu padrinho”, afirmou, satisfeito.

Em seu discurso, o juiz substituto em segundo grau Fábio Cristóvão falou sobre a admiração e respeito que sente por Lenar e desejou muita felicidade e sucesso. “Uma das coisas mais difíceis no embate saudável com Lenar é com certeza divergir dele”, brincou. Na opinião do juiz substituto em segundo grau Jairo ferreira Júnior, a maior qualidade de Lenar é a falta de vaidade. “Se um décimo da população fosse desprovida de vaidade dessa maneira, com certeza estaríamos entre pessoas mais generosas e viveríamos num mundo bem melhor”, declarou. Os juízes substitutos em segundo grau Eudélcio Machado Fagundes e Lilia Mônica de Castro Borges Escher também se emocionaram e classificaram o fato de ter conhecido e convivido com Lenar como uma dádiva divina.

O procurador de Justiça Leônidas Bueno Brito também fez questão de homenagear Lenar. “A palavra que já tenho agora comigo é saudoso, pois a saída de Lenar nos deixa com uma sensação de grande vazio, embora o legado que ele nos deixa é incomparável e inesquecível”, elogiou. Em breves palavras, a secretária da Seção Criminal Maria Aparecida de Azeredo Coutinho também falou sobre o carisma de Lenar e fez um agradecimento especial em nome de todos os servidores. “Somos eternamente gratos ao desembargador Lenar que nunca deixou de olhar por nós”, acentuou.

Currículo

José Lenar de Melo Bandeira foi eleito presidente do TJGO em sessão do então Tribunal Pleno, atualmente Corte Especial, após a mudança da lei, em fevereiro de 2007. Na época, participaram 28 dos 30 desembargadores da ativa que o elegeram para comandar o biênio 2007/2009. Nascido em Porto Franco (MA), viveu em Tocantinópolis, norte de goiás, hoje no Estado do Tocantins, até 1962, quando se transferiu para Goiânia.

Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Goiás, em 1972. Foi aprovado em concurso para Delegado de Polícia em 1973 e para promotor de Justiça em 1975. Permaneceu no Ministério Público estadual até 23 de junho de 1997, quando passou a ocupar a vaga de desembargador no TJGO. Foi professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e presidente, vice-presidente e corregedor-geral do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). É casado com Myriam Ferreira de Carvalho Melo com quem teve cinco filhos. (Texto: Myrelle Motta / Fotos: Aline Caetano - Centro de Comunicação Social do TJGO)

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