A equipe do projeto Pai Presente, executado pela Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás (CGJGO) iniciou, na semana passada, as sessões solenes para abertura de exames de DNA realizados por pessoas que procuraram o projeto. Até o momento, nove sessões foram realizadas e, em oito delas, o exame deu positivo.

De acordo com a coordenadora da equipe, Marielli de Melo Parreira, em todos esses casos os pais, logo após a abertura dos exames – todas feitas na presença do juiz coordenador do projeto, Carlos Magno Rocha da Silva – concordaram em proceder ao reconhecimento da paternidade. Um caso, contudo, chamou a atenção pela peculiaridade da história: o de Francisco Rodrigues Ferreira, conhecido como Rodrigo, e Francisley Eduardo de Jesus, pai e filho.

Francisco, ou Rodrigo – como prefere ser chamado – era, em 1973, o empresário da banca de rock The Kings. “Éramos muito assediados, tínhamos cabelos na cintura, as mulheres ferviam em cima da gente e ninguém é de ferro. Eu traía mesmo”, relata ele contando como conheceu a mãe de Francisley, Terezinha Joana de Jesus. “Foi num show, no bairro Palmito, aqui em Goiânia. Eu era casado mas fiquei com ela e começamos um caso. Nove meses depois, o Francisley nasceu”. Terezinha sempre afirmou que o filho era de Rodrigo, e o menino cresceu reportando-se a ele como seu pai. “Eu nunca o deixei, sempre convivi com ele, mas minha família não aceitava”, conta Rodrigo.

Francisley também não tem boas recordações a respeito. “Até o dia em que saiu o exame de DNA, eu era tido como bastardo. Minha mãe morreu em 2009 reafirmando que ele era meu pai, mas minha família paterna não me aceitava. Eu chegava na casa da minha avó, pedia a benção e ela até me dava, mas com o rosto virado para mim. Quando ela estava prestes a morrer, muito debilitada, fui eu, entre todos os netos, o único a cuidar dela de verdade. E, nessa época, ela me pediu desculpas”, relembra.

Embora sempre tenha sido tratado como filho por Rodrigo, Francisley sentia falta de um documento que comprovasse o vínculo. “A sociedade exige isso, essa é a verdade”, analisa. Ele relembra que, na escola, costumava afirmar que o pai morava no exterior, para fugir aos questionamentos relacionados ao fato de ele não ter seu nome nos documentos. Também nunca teve proximidade ou carinho dos irmãos por parte de pai, uma vez que esses não acreditavam que ele fosse, de fato, filho de Rodrigo. “Parece incrível, fui criado por ele como filho, mas a falta de um documento, de uma prova, realmente foi determinante para a relação com meus irmãos e tios e isso me afetou muito”, afirma.

Para dar fim às dúvidas, pai e filho procuraram a equipe do Pai Presente. “Não que o resultado do DNA fosse mudar alguma coisa, mas achamos importante para dar fim à falação da família”, afirma Rodrigo. Com o resultado positivo nas mãos, Francisley conta que procurou um irmão por parte de pai, que nunca lhe dirigia a palavra. “Disse: tá aqui, sou seu irmão, quer você queira ou não. Se precisar de qualquer coisa, estarei aqui”. Desde então, segundo ele, a relação entre os dois tem melhorado, assim como com o restante da família. “Sim, eles erraram comigo, mas não sou de guardar mágoas. Posso até compreender, porque meu pai aprontou muito, era casado, e isso afeta a família. Mas eu não pedi para nascer, eu não tinha culpa de nada”, analisa.

Agora, com o auxílio da equipe do Pai Presente, Rodrigo reconheceu a paternidade de Francisley e, animado, afirma até que se dispõe a reconhecer outros filhos que porventura tenham sido gerados na época em que era roqueiro. “Disseram que tenho uma filha lá pras bandas do Araguaia. Se eu encontrá-la e for verdade, volto ao Pai Presente”, afirma, entre sorrisos, sem descartar a possibilidade de ter outros filhos cuja existência desconhece.

Pai Presente

Apesar de deixar claro a mudança – para melhor – que o reconhecimento paterno lhe trouxe, Francisley afirma que Rodrigo foi, sim, um pai presente. “Na adolescência, época em que a gente fica muito vulnerável, comecei a sair com uma galera da pesada”. Foi então que, avisado por Terezinha, Rodrigo resolveu seguir o filho, conhecer as amizades dele e, depois, chamá-lo para uma conversa. “Eu disse para ele que quem com porcos andasse, lama comeria, e lhe perguntei se era isso o que ele queria da vida”, relembra Rodrigo, contando que a conversa foi longa e decisiva.

Naquele mesmo dia, Francisley mudou de vida: deixou a turma e procurou, com a ajuda do pai, se profissionalizar. Ele estudou mecânica e, desde então, trabalha com conserto de carros. Hoje é um bem sucedido proprietário de grande oficina mecânica. “Se não fosse por meu pai, e sua presença, sua conversa, eu poderia ter desviado para sempre. Hoje tenho o meu ganha-pão, sou um homem direito, honesto. Isso não tem nada que pague”, garante. (Texto: Patrícia Papini – Assessoria de Imprensa da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás / Fotos: Wagner Soares - Cecom/TJGO)

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