Paulo Francisco Martins Neto, de 47 anos, vive em um universo de escuridão. Há um ano ele apenas escuta e não enxerga praticamente nada. E foi por meio da voz do juiz Rodrigo de Melo Brustolin que soube que conseguiu a aposentadoria, durante o Programa Acelerar – Núcleo Previdenciário que esta semana é realizado nas comarcas de São Simão, Cachoeira Alta, Paranaiguara e Maurilândia.

O homem enxergava em seus primeiros anos de vida, até que a herpes o tornou cego de um olho. Aos 8 anos de idade, teve a chamada herpes ocular – uma infecção da córnea, infectada pelo vírus do herpes simples – e perdeu totalmente a visão do olho esquerdo. De dois anos para cá a doença começou a se manifestar gradativamente no outro olho e hoje ele tem dificuldade de ver até vultos. “Eu me considero um deficiente. Eu vivi muito tempo enxergando apenas de um olho e fazia de tudo, agora, estou totalmente dependente”, disse.

Ele conta que a família era muito humilde e quando ficou cego não tratou da doença da maneira correta. “Minha mãe não sabia das coisas. Eu não fui ao médico. Ela achava que eu tinha isso porque minha avó teve”, afirmou. E foi somente na fase adulta que procurou o médico, mas já era tarde. “Quando notei que estava ficando cego do outro olho me desesperei”, ressaltou.

Morando com a mulher, uma filha e uma neta, Paulo falou da dificuldade que passou quando parou de trabalhar. “Eu fiquei cego e sem dinheiro, não sabia o que fazer. Até que minha mulher arrumou um emprego e começou a ajudar em casa.” Ele disse que mesmo enxergando apenas com um olho, conseguiu construir sua vida.

Depois de trabalhar anos na roça, Paulo Francisco e sua família se mudaram para a cidade. Foi quando ele fez um curso de pedreiro. “Consegui colocar meus filhos para estudar e quis investir em mim também. Comecei a ser pedreiro e ganhei até um dinheirinho”, relatou. Ele falou que, apesar de não ser rico, conseguiu dar muitas coisas para a esposa e os filhos. “Tinha uma vida até boa. Tinha casa, uma Kombi, até que vendi tudo para tratar do meu olho. Agora não tenho mais nada”, desabafou com a voz embargada. “Eu até pensei em suicídio porque achava que não ia dar conta da passar por tudo”, completou.

No entanto, a aposentadoria veio em uma boa hora. “A mulher ficou desempregada e está recebendo o seguro-desemprego, mas vai acabar daqui dois meses e não sabemos o que fazer. Graças a Deus essa aposentadoria chegou”, agradeceu. Sem poder ver o que se passa a sua volta, as mãos se tornaram seu instrumento “de trabalho” e só reconhece as pessoas pela voz. “Eu fico no quintal passando a mão e arrancando capim. Até que um dia, minha mulher disse que viu uma cobra e eu fiquei com medo”, afirmou.

O drama que Paulo Francisco vive é compartilhado por sua mulher. “Eu sofro com a dor dele. Mas agora vamos poder tratar melhor dele. Pelo menos para ele não sentir dor, porque a visão já foi”, lamentou a faxineira Lucélia Dantas de Lima, de 39 anos. (Texto: Arianne Lopes/Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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