O acesso rápido e fácil à internet favorece a comunicação interpessoal e as interações. No universo dos relacionamentos amorosos, a traição pode estar a um clique, e uma curtida ou comentário podem gerar problemas graves que ultrapassam a barreira do virtual. Para discutir as implicações psicológicas e mesmos os deslindes judiciais, o projeto Roda de Conversa abriu a edição deste ano com o tema “Infidelidade e novas tecnologias: Desafio nas famílias e no campo jurídico”, com reunião nesta quinta-feira (19), no Fórum Cível.
Reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o Prêmio Conciliar é Legal 2017, o Roda de Conversa traz, mensalmente, assuntos em voga nos consultórios de terapia e em ações familiares, como homossexualidade, alienação parental, direitos do idoso, entre outras pautas. O evento é aberto ao público e comunidade em geral, mas com foco em magistrados, psicólogos, terapeutas, assistentes sociais e advogados.
Nesta edição, para debater o tema, foram convidadas a psicóloga do Rio de Janeiro Vera Risi, presidente da Associação Brasileira de Terapia Familiar, e a juíza auxiliar da presidência Maria Cristina Costa, que é titular da 4ª Vara de Família e Sucessões de Goiânia. “O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) tem procurado inovar em ações para trazer, não só o jurisdicionado, mas a comunidade acadêmica e a sociedade, para debater sobre o tema questões de família. A ação tem sido muito bem-sucedida, no formato de conversa, que se difere de palestra, numa oportunidade de debater o assunto”, destacou a magistrada.
Organizadora do evento, a psicóloga Silvana Silvestre explica que o formato possibilita a “co-construção de conhecimento a respeito de temas novos e recorrentes, tratados em processos, escritórios de advocacia e consultórios. Redes sociais permeiam relações amorosas e relações de conflito e não há como não lidar com essa realidade”.
A iniciativa vem sendo bem recebida pelo público, como a advogada Ana Paula Félix Gualberto, presidente da Comissão de Direito da Família e Sucessões da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás. “Com um formato informal e abrangente, a Roda de Conversa atende aos nossos anseios por aperfeiçoamento e amadurecimento, tornando possível a interação entre o Direito e a Psicologia. O Direito da Família lida com emoções e com momentos muito delicados e o profissional que atua nesta área não pode se ater, somente, ao aspecto objetivo da lei. É importante que as partes saiam do processo de forma equilibrada e saudável”.
Traição, redes sociais e WhatsApp
Adultérios sempre foram presentes nos lares, conforme conta Risi, só que, com o advento dos smartphones, os casos extraconjugais ganharam novos contornos. “O celular já faz parte do corpo de muitas pessoas, que ficam o tempo todo on-line. Alguém que já tem o perfil desconfiado, fica ainda mais controlador. Antigamente, uma troca de olhares numa festa, por exemplo, poderia desencadear uma crise de ciúmes. Hoje, uma simples curtida ou uma solicitação de amizade aceita pode ser o motivo”, conta.
Em seu consultório, a psicóloga conta que percebe posicionamentos distintos entre pacientes do sexo feminino e masculino. “No geral, para homens, se não teve contato físico, não foi traição. Já as mulheres entendem que se houve troca de intimidades – mesmo apenas no meio virtual – é uma traição”.
Para Vera, é importante que haja diálogo entre o casal e respeito entre os contratos e códigos, sejam implícitos ou explícitos. “Costumo dizer aos pacientes, se 'é preciso esconder do companheiro, é segredo. Por que, então, é segredo? É traição?”. (Texto: Lilian Cury/ Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social do TJGO)