Uma carta escrita de próprio punho pelo suposto serial killer, o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, deverá ser remetida nos próximos dias ao juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal de Goiânia. A opção foi feita pelo próprio Tiago durante audiência de instrução preliminar realizada na tarde desta terça-feira (19), na 1ª Vara Criminal, para ouvir três testemunhas no processo que apura a morte de Beatriz Cristina Oliveira Moura, assassinada em 18 de janeiro de 2014, no Setor Nova Suíça, em Goiânia, quando se dirigia a uma panificadora.
O magistrado explicou que esse fato não interfere no prazo para a manifestação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e da defesa, apresentação dos memoriais e, ao final, a conclusão do juiz se ele irá ou não a júri popular também por este crime. “O acusado tem o direito de se manifestar legalmente como quiser, inclusive permanecer em silêncio, se fosse o caso”, esclareceu.
Quando indagado pelo promotor Cyro Terra Peres se tinha lembrança sobre o crime, inclusive com uma exposição das fotos da vítima e do local onde o fato aconteceu, Tiago Henrique disse que não se recordava e permaneceu o tempo todo impassível. Para Jesseir, ele reafirmou estar arrependido, disse que se recorda de algumas vítimas, além de ter saído “alucinado” de casa e tomado muita bebida alcoólica. No entanto, pediu ao magistrado para escrever sobre os fatos quando foi questionado pelo juiz com maior ênfase pelo crime e ainda sobre seu contexto familiar. “Queria poder explicar, mas assim não consigo. Posso escrever para o senhor?”, solicitou, sendo atendido prontamente pelo magistrado.
Prestaram depoimento Lorena Eterna Oliveira Moura e Sônia Maria Oliveira Sobrinho, irmã e tia da vítima, além de Thomaz Laurentino de Albuquerque, uma das primeiras testemunhas a encontrar o corpo da garota caído na calçada onde ocorreu o crime. Os três foram enfáticos em afirmar que desconheciam qualquer motivo para que Beatriz fosse morta dessa forma e que não tinha desavenças com ninguém. Tanto Lorena quanto Sônia disseram que ela tinha um comportamento exemplar, que vivia para a família e era muito religiosa, cuidava dos avós paternos e de um sobrinho de 8 anos de idade.
Lorena, que era irmã mais velha da vítima, contou que Beatriz tinha 23 anos, que a mãe morreu muito cedo e que, por essa razão foram criadas pelos avós. Emocionada, ela disse que toda família entrou em choque e não compreende a razão de tamanha violência contra alguém que nunca fez mal a qualquer pessoa. “Minha irmã tinha conduta exemplar. Como pode, você sair em um domingo de manhã para comprar pão e levar um tiro? Quando recebi a notícia entrei em desespero”, comoveu-se. Por acreditar se tratar de um assalto quando recebeu a notícia da morte da sobrinha, Sônia mencionou a aflição dos familiares e falou que foi até o local. “Nossa menina vivia só para ajudar a família e não existia motivo para alguém matá-la”, relatou.
Mesmo não conhecendo Beatriz e sem ter laços de parentesco, Thomaz, última testemunha a ser ouvida, declarou que sua figura era familiar no bairro e que sempre a via no caminho da panificadora. Ele descreveu a forma como encontrou a garota caída no meio fio, no chão da calçada, e confirmou que ela ainda estava viva quando a encontrou. “Fui na padaria cedo, por volta das 7h30, ouvi um tiro e um barulho de moto na sequência. Acredito que tenha sido a primeira pessoa a ver a garota, ali, no chão. Vi que ela estava respirando ofegante. Avisei a polícia e a minha família na hora”, sustentou.
Conforme elucidou Jesseir, tramitam hoje 26 processos na Justiça contra Tiago, dos quais 22 estão na 1ª Vara Criminal de Goiânia. “Até o momento já foram oito decisões de pronúncia”, frisou. (Texto: Myrelle Motta - Centro de Comunicação Social do TJGO)