Somente na manhã desta terça-feira (5) já foram ouvidas 11 testemunhas (três de acusação e oito de defesa) no Auditório do Tribunal do Júri de Goiatuba, durante o julgamento dos quatro policiais acusados de homicídio qualificado (por utilizarem recurso que impossibilitou a defesa da vítima) contra o cantor sertanejo José Bonifácio Sobrinho Júnior, conhecido como Boni Júnior.
Estão sendo julgados os militares Silmar Silva Gonçalves, André Luis Rocha, Edson Silva da Cruz e Aluísio Felipe dos Santos. A sessão, presidida pela juíza Ana Paula Tano, foi suspensa por uma hora para o almoço e nesta tarde segue com o depoimento dos réus e debates orais (manifestações do Ministério Público do Estado de Goiás e da defesa). A previsão é de que o júri termine nesta quarta-feira (6).
Na fase dos debates orais, a acusação (Ministério Público e assistente de acusação) e a defesa falam sucessivamente sobre as provas produzidas e defendem suas teses com o objetivo de convencer os jurados de que está com a razão. Concluídos os debates, a juíza indagará os sete jurados se estão aptos a julgarem o caso. Os policiais também foram submetidos a júri por fraude processual (artigo 347 do Código Penal) pela tentativa de forjar a cena do crime para incriminar a vítima. Atuam pela acusação o promotor Rodrigo Sé Patrício de Barros e o assistente Ronivan Peixoto de Morais e, pela defesa, os advogados Islon Roberto da Silva, Clodomir Ferreira Pimentel, João Batista de Oliveira e Antônio Carlos de Oliveira,além da servidora da Diretoria de Correição e Serviço de Apoio da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás (CGJGO), Márcia Cordeiro das Neves, que está em auxílio ao Tribunal do Júri na comarca. O crime aconteceu na madrugada de 28 de outubro de 2012, nas proximidades do Motel Emoções, localizado na altura do quilômetro 16 da GO-515, entre Panamá e Goiatuba, na Região Sul de Goiás.
Segundo a denúncia formulada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Silmar e André Luis, na companhia do policial Cléber Gomes de Oliveira, realizavam uma barreria policial na rodovia mencionada, ocasião em que a viatura utilizada por eles para interditar a pista foi atingida pelo carro de José Bonifácio, que trafegava no sentido Panamá/Goiatuba. De acordo com o MP-GO, por estar em alta velocidade, o cantor não viu a viatura policial estacionada no local e o impacto do choque entre os dois veículos fez com que Cléber Gomes fosse arremessado por vários metros de distância, causando-lhe graves ferimentos.
Na sequência, enquanto um dos denunciados (Silmar Silva e André Luis) dava assistência ao policial ferido o outro teria ido verificar o estado da vítima. Ao constatar, que ela, mesmo agonizando e muito ferida, estava viva, conforme relata a denúncia, um dos dois sacou a arma que portava e efetuou um disparo à média distância (50 cm a 5 metros) sem que José Bonifácio tivesse condição de se esquivar do tiro, que atingiu a região próxima ao seu olho esquerdo, matando-o instantaneamente. Instantes após a execução, Edson Silva e Aluízio Felipe, que estavam perseguindo o veículo do cantor sertanejo, chegaram ao local e se depararam com o desespero dos colegas para salvar o policial machucado e encontrar uma forma de não serem responsabilizados pelo homicídio praticado.
Em comum acordo, segundo narra o órgão ministerial, os quatro resolveram ardilosamente inovar a cena do crime, utilizando outra arma de fogo que estaria em poder Edson Silva e Aluísio Felipe no intuito de simular uma suposta agressão a tiros por parte da vítima. Então, foi disparado um tiro contra cada um dos vidros frontais das duas viaturas que estavam na localidade, além da arma ter sido colocada no interior do veículo da vítima para que parecesse uma suposta conduta de legítima defesa, fato que justificaria tanto a perseguição quanto o tiro efetuado contra José Bonifácio. Dessa maneira, o juiz criminal seria induzido a erro, de modo a favorecê-los em eventual processo que viessem a sofrer. (Texto: Myrelle Motta/Fotos: Wagner Soares – Centro de Comunicação Social do TJGO)