Uma folclorista, um gari, um contador de histórias da infância e um colorista criativo, unidos pelo mesmo ideal: levar a arte através das várias formas de expressão popular e da natureza em imagens coloridas diversas e multifacetadas. O resultado desse trabalho ímpar que proporciona uma verdadeira viagem ao mundo das cores e da poesia reunirá pela primeira vez os quatro artistas autodidatas premiados nacionalmente Helena Vasconcelos, Sandro Carvalho, Manoel Santos e Dilvan Borges na exposição Pincelada a Quatro Mãos que acontecerá nesta terça-feira (9), às 16 horas, no Espaço Cultural Goiandira do Couto, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).
A mostra conjunta terá trabalhos antigos e recentes, além de obras inéditas dos artistas. Serão expostos entre 11 e 12 trabalhos, em pintura acrílica e cerâmica. A visitação é gratuita e a temporada se estenderá até o dia 2 de setembro. A mineira Helena Vasconcelos é radicada em Goiânia desde 1976 e considerada uma das maiores representantes da arte naif em Goiás. É no folclore que a artista busca inspiração para representar pictoriamente as manifestações culturais de Goiás de maneira marcante e delicada ao mesmo tempo, como as danças típicas: congada, catira e folia de reis; além das cavalhadas e as manifestações religiosas da Procissão do Fogaréu e da Festa do Divino Pai Eterno.
“Esse resgate da cultura popular é parte essencial de toda a minha carreira - é muito gratificante também saber que, de certa forma, este trabalho contribui para não deixar que isso se perca. O folclore é um do mais belos retratos do saber de um povo. Tudo que simboliza em seus hábitos, conservados através do tempo; conhecimentos passados de geração em geração, por meio de lendas, mitos, festas, canções, danças, comidas, utensílios, brincadeiras e adereços”, destaca. Os goianienses poderão conferir ainda os trabalhos em cerâmica nos potes e pratos feitos pela artista plástica que fazem referência a elementos da cultura popular goiana.
A criação com a avó materna e a proximidade com a natureza decorrente da pequena chácara que ficava em frente ao local em que residia, cujas horas ele passava observando os animais e ouvindo os diversos sons da fazenda, fizeram com que o gari Carlos Manoel dos Santos, artisticamente conhecido como Manoel Santos, aprendesse a pintura como ouvinte desde muito cedo. Concursado na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) há 10 anos, ele acorda às 7 horas todos os dias para ajudar na limpeza das ruas da capital e retorna às 16h30, horário em que passa a se dedicar à sua grande paixão: a pintura. A marca registrada das suas telas é o jacaré e os pontilhados delicados que refletem a fauna e a flora multicoloridas representam a definição do renascimento. “Todos me perguntam como conciliar o tipo de serviço que faço, que é um tipo de mão de obra pesada e rústica, com a arte, que exige muita sensibilidade. O fato é que retratar a natureza como um todo é também enxergar a própria vida sob outro prisma, pois tudo se renova todos os dias”, acentuou.
Seguindo o mesmo caminho, o artista goiano Dilvan Borges, que tem várias obras ligadas a Piracema (período de reprodução dos peixes), também acredita que o ciclo da vida renasce constantemente e busca na natureza sua fonte de inspiração. “O artista tem o de transformar em arte o cotidiano mais simples, aquele com que convivemos todos os dias, como é o caso das belezas inerentes da natureza, mas que passa despercebido na maioria das vezes”, evidencia. Inspiradas na temática da infância, as obras do artista Sandro Carvalho narram um pouco da história feliz que ele viveu nessa época da sua vida, quando morava com a família no interior. Por essa razão, afirma que nas suas telas procura despertar nas pessoas a redescoberta da criança que existe em cada um. “É como se todos os dias fizesse uma viagem de volta ao passado. Um encontro com a criança que há em mim e em todos nós”, explica.
Currículos
Helena Vasconcelos é natural de Uberaba (MG), mas vive e trabalha em Goiânia. Graduada em história pela Faculdade de Filosofia Santo Tomás de Aquino pela Universidade de Uberaba (Uniube), é especialista em história da arte e arte barroca pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já participou de diversas mostras no Brasil dentre elas as Bienais de Piracicaba (2010), 1ª Internacional do Pano de Prato onde ganhou o Prêmio “Célia Câmara” com a obra “O Sacro e o Profano”. Suas pinturas em acrílica sobre tela são uma referência a diversas manifestações da cultura popular regional, tais como “Folia de Reis”, “Procissão do Fogaréu”, “Congadas de Catalão”, “Cavalhadas”, dentre outras. Em 2010, participou do XV Circuito Internacional de Arte Brasileira em Berlim, Praga e Amparo (SP). Possui obras em acervo no Museu de Arte de Goiânia, Mag Itinerante, Museu de Britânia, Instituto Cultural José Mendonça Teles, entre outros.
Observador contumaz da natureza, o artista Manoel Santos, funcionário do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura de Goiânia, frequentou o Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás (UFG), sendo modelo vivo da anatomia humana e ouvinte de pintura com os professores Cléber Gouveia e Maria Veiga Goiânia. Foi selecionado na Bienal NAIFS do Brasil (entre culturas) do Sesc de Piracicaba (SP) com a obra Mamãe Raposa, dimensão 60x90, pelo júri de Seleção e Premiação, constituídos pelos críticos de arte Oscar D’Ambrósio, Maria Alice Milliet de Oliveira e Maria Lúcia Montes, para 1ª Bienal de Pano de Prato – Instituto Arte e Cidadania de Goiânia, Festival do Mercado de Arte (categoria pintura) e pela Escola de Artes Visuais da capital. Entre as diversas premiações estão as primeiras colocações no 1° Concurso de Pintura Toctao Engenharia Visionaire, promovido em Goiânia em 2007; e no 1° Salão de Artes em pequenos formatos no Instituto Cultural José Mendonça Teles em 2008. No ano de 2013, obteve o 2º lugar na Categoria Arte Primitiva do Prêmio Sesi Arte e em 2015 alcançou o 1° lugar na mesma categoria.
O artista goiano Dilvan Borges mergulha no universo da cor. Seja temática uma plantação ou uma paisagem, no formato tradicional retangular ou de mandala, o que cativa em sua pintura, desde o primeiro olhar, é a maneira como as cores e as formas interagem no sentido de criar atmosferas de sonho, em que os movimentos visuais são propiciados pela combinação entre elas. Seu inegável talento de colorista uma dimensão plástica baseada no sucessivo trabalho com as formas buscam uma linguagem progressivamente encantadora em que a espontaneidade própria na criação de climas fantásticos, regidos pela criatividade e pelo poder de surpreender a cada tela. Com várias exposições de âmbito regional já recebeu Menção Honrosa no 6º Concurso de Arte Sesi e foi selecionado no 5º Prêmio BEG de Literatura e Artes Plásticas. Também participou de importantes mostras internacionais de arte em Brasília, São Bernardo do Campo, Santo André e Joinville.
Nascido em Goiânia, Sandro Carvalho descobriu a pintura na infância. Fez curso de desenho e pintura com o professor Agnaldo Moreno. Pintou telas clássicas e experimentou outras linguagens e técnicas artísticas. A identificação com a chamada arte primitivista suplantou todas as outras. Nos fragmentos da memória, extrai as lembranças de um tempo muito feliz quando podia brincar na rua acompanhado do inseparável cachorro Chumbrega, jogar bola no campinho empoeirado, brincar no coreto da pracinha, ir ao circo e tomar banho de cachoeira com a garotada. Expôs suas obras em galerias de Goiânia, Anápolis, Brasília e Rio de Janeiro. Em 2002, conquistou o Prêmio de Menção Honrosa na Bienal de Arte Naif de Piracicaba, uma das mais importantes do gênero no País. (Texto: Myrelle Motta/Fotos: Hernany César – Centro de Comunicação Social)
Exposição: Pinceladas a Quatro Mãos, com obras dos artistas autodidatas Helena Vasconcelos, Sandro Carvalho, Manoel Santos e Dilvan Borges
Data: De 9 de agosto até 2 de setembro
Horário: das 8 às 18 horas, de segunda a sexta-feira
Local: Espaço Cultural Goiandira do Couto, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
Entrada gratuita