Crianças vítimas de violência e abusos sexuais poderão ser ouvidas em um ambiente lúdico, para propiciar maior acolhimento e minimizar traumas em novo espaço inaugurado nesta segunda-feira (12), no fórum de Águas Lindas. Chamada de ludoteca, a sala tem brinquedos pedagógicos e, inclusive, peças estratégicas que podem ajudar a retratar os crimes sofridos.

Na inauguração, o juiz titular da 1ª Vara, Felipe Levi Jales Soares, destacou que magistrados não têm treinamento necessário, ao contrário de psicólogos, para coletar depoimentos de menores que vivenciaram estupros ou abusos. “Dessa forma, ao fazer a criança rememorar fatos sofridos sem o cuidado necessário, a colocamos em situação vexatória e provoca-se a revitimização – é justamente isso que queremos evitar”, explica.

A Ludoteca foi instalada com apoio do Instituto Sabin, organização sem fins lucrativos que atua para melhoria da sociedade onde o Laboratório Sabin tem sedes. “Diferente de uma brinquedoteca, que abriga crianças durante uma audiência dos pais, a ludoteca tem um papel fundamental para a Justiça: é o local onde se colhe depoimentos das crianças, numa abordagem tranquila, feita por pessoas capacitadas para isso”, explicou o gerente-executivo da organização, Fábio Deboni.

Brinquedos, livros e móveis foram doados pelo instituto, que inaugurou mais de 83 salas do tipo no País. Em Águas Lindas, a iniciativa foi proposta por Felipe Levi e pela assistente jurídica e coordenadora local do programa Pai Presente, Andréa Leilane de Sousa, que procuraram a organização e cederam o espaço.

O próximo passo é a instalação de equipamentos de escuta, gravação e transmissão de áudio, para comunicação entre juiz e psicólogo durante audiência das vítimas. “Temos notícias de que, em breve, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) vai fazer as aquisições e instalações dessa tecnologia”, acredita o magistrado.

Depoimento sem dano

Psicóloga atuante na comarca há cerca de dois anos, Fernanda Rodrigues conta que é fundamental fazer com que a criança fique à vontade. “É preciso estabelecer um vínculo e passar confiança à vítima e utilizar técnicas específicas. Mesmo assim, muitas vezes, a criança resiste e não fala”, explica a servidora.

Para ajudar nas oitivas, na ludoteca, há uma família de bonecos sexuados – são vários integrantes de um mesmo núcleo familiar, feitos de pano, com pequenos botões de metal costurados nos locais destinados a genitálias. Espaços para desenhos também são importantes para ajudar os pequenos nas expressões de seus sentimentos. Com demonstrações nos brinquedos, a criança pode contar o que passou, conforme elucidou Fernanda.

A escrevente Valquíria Rosa Dantas tem curso de depoimento sem dano, chancelado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo a servidora, a criança vítima, “ao rememorar o crime na delegacia e no Judiciário sofre abuso novamente”. Na ludoteca, com um ambiente preparado e profissionais capacitados, o contato é facilitado, acredita. “Crianças vítimas de violência costumam ficar retraídas ou agressivas, por isso que mudanças de comportamento repentinas devem ser avaliadas por familiares. É preciso ter um olhar atento, não induzir perguntas e não levar a criança a criar verdades ou histórias que não aconteceram, por isso a cautela”, destaca. (Texto: Lilian Cury / Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social do TJGO)

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