Cerca de três quilômetros separam a casa e o trabalho de Belua Uassuri (em português, Adriana Uassuri). Apesar da curta distância física, a jovem de 26 anos atravessa, diariamente, a barreira entre dois mundos completamente distintos. De manhã, ela cumpre rotina como secretária no fórum da comarca de Aruanã, no fim de tarde, ela volta para sua residência, na Aldeia Buridina, da etnia Karajás.

Desde os 10 anos de idade, Adriana aprendeu a conciliar os costumes ocidentais com os de sua tribo. Ela vive praticamente desde que nasceu, junto à mãe e os familiares indígenas, às margens do Rio Araguaia. Até o 5º ano do ensino fundamental, estudou em uma escola dentro do próprio núcleo – depois, para dar continuidade os estudos, teve de sair para um colégio da rede estadual regular.

“Aprendi a conciliar bem duas culturas tão diferentes. Fora, eu trabalho, estudo e convivo bem com meus amigos. Quando volto para aldeia, mantenho meus costumes e minhas tradições”, conta Adriana, que reside na aldeia com a mãe e dois filhos.

Assim como vários índios de sua tribo, Adriana decidiu ingressar no ensino superior. Primeiro, cursou pedagogia, mas, não imaginou prosseguir na carreira. Mudou para Direito e se apaixonou pela área. O sonho de formar-se, contudo, teve de ser adiado temporariamente, a jovem engravidou do primeiro  filho, Joaquim Augusto, hoje com nove anos.

Há seis anos, teve a oportunidade de trabalhar no Fórum local, só que na área de limpeza. “Comecei na faxina e sofri preconceito. Muitas pessoas não gostavam de deixar pertences sozinhos na sala, enquanto eu entrava para limpar”, revela.


Os olhares tortos não intimidaram Adriana. “Índios estão acostumados a sofrer preconceito. Mas não seria isso que iria me atrapalhar. Dei o máximo de mim e pensei que o meu serviço bem-feito falaria por mim. Meu caráter seria mostrado por minhas atitudes”.

Sua força foi notada pelo então diretor do Foro, o juiz Peter Lemke Schrader, em 2013, e, em seguida, pelo sucessor, juiz Luís Henrique Lins Galvão de Lima. “Eles me deram apoio e confiaram muito em mim. Hoje, tenho o respeito de todos, acredito que sou uma boa profissional e quero continuar crescendo”, diz. Seus planos incluem voltar para a faculdade de Direito.

Indagada sobre as maiores diferenças sobre os costumes da aldeia e os da cidade, Adriana filosofa e ensina. “Nós, índios, pensamos muito diferente no sentido de coletividade. Somos menos egoístas, sempre pensamos no próximo e em dividir o que é nosso”.

A matéria foi feita durante o Justiça Ativa, realizado na comarca de Aruanã, entre os dias 18 e 21 de outubro. (Texto: Lilian Cury/ Fotos: Wagner Soares – Centro de Comunicação Social do TJGO)

 

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