A audiência de Cynthia Pereira dos Anjos, de 33 anos, chamou a atenção de muitos que estavam no fórum de Piranhas, nesta quarta-feira (20), durante a realização do Acelerar Previdenciário na comarca. Ao entrar na sala de audiência, a mulher teve um surto psicótico e saiu do local. Porém, o juiz Rodrigo de Melo Brustolin prosseguiu a audiência com a mãe da autora da ação e lhe concedeu o benefício do auxílio-doença.

A mulher sofre de esquizofrenia, doença caracterizada, entre outras coisas, por dificuldade em distinguir o real do imaginário. E, assim que entrou na sala, começou a gritar e falar coisas sem nexo. “Vocês mataram o presidente da Brasil. Sou uma pesquisadora forte há mais de 20 anos e tenho fórmulas. Eu tive que passar pelas engenharias”, disse gritando.

Cynthia saiu do fórum correndo e seguiu rumo a sua casa, a mulher foi acompanhada por uma viatura da Policial Militar para que nada acontecesse com ela. Cynthia é conhecida na cidade e não é a primeira vez que ela tem esse tipo de crise. Segundo a mãe, Alzira Pereira dos Anjos, as crises não são tão recorrentes, mas acontecem. Na cidade, muitas pessoas conhecem o problema e tentam ajudar a genitora. “As vezes, eu vejo ela caminhando ou entrando em algum lugar e aviso a Alzira. Tem dia que ela tá uma beleza”, disse um senhor sem se identificar.

Apesar dos remédios permitirem que ela passe alguns períodos em estado praticamente normal – sem alucinações e agressividades –, a mãe relatou o drama da convivência com a filha, que há nove anos tem a doença. Segundo ela, Cynthia não faz um tratamento contínuo por falta de condições financeiras e os resultados são os surtos. “Ela vai para o hospital, a médica passa os remédios e quando é preciso ela é internada. Quero arrumar o plano de saúde para ele se tratar. Sei que ela precisa ser internada”, afirmou.

De acordo com Alzira, a filha tem ainda depressão e transtorno bipolar. “Sei que para ela é muito difícil. Minha filha é muito inteligente. Formou-se numa universidade federal, fez mestrado e fala inglês. Estudou a vida inteira e descobriu a doença quando dava aulas. Sempre teve seu dinheiro e agora não tem nada”, contou.

A doença da filha fez com que Alzira mudasse sua rotina. “Tenho medo dela me matar. Ela tem raiva de mim. Quando ela tem esses surtos, eu tenho que sair de casa e dormir na casa dos outros”, frisou. Ela disse que as vezes a filha foge, vai para rua sem rumo e ninguém sabe para onde vai.

A sentença
“A questão posta em juízo, conquanto de direito e de fato, para decisão, não necessita de prova em audiência, ensejando seu deslinde, por tal nuança de modus antecipado”, destacou o magistrado. Para ele, a perícia foi clara e constatou a incapacidade total, embora temporária da parte autora. “Nota-se a impossibilidade da autora desenvolver suas rotineiras atividades habituais. As provas demonstram a incapacidade da autora para o trabalho anteriormente desenvolvido”, salientou o juiz.

Ao acabar a audiência, a mãe pediu desculpas e chorou. Ela relatou ao juiz a dificuldade de conseguir o tratamento para a filha e para ela também que disse que não aguenta mais a situação. “Eu também estou doente. Tomando medicamento de faixa preta”, contou.

2,5 milhões de brasileiros tem a doença
Pesquisadores estimam que 1% da população mundial, cerca de 100 milhões de pessoas, sofram atualmente com a doença. No Brasil, o mal afeta mais de 2,5 milhões de pessoas, que apresentam algum transtorno mental grave ligado à esquizofrenia e que, em algum momento, podem precisar de um hospital psiquiátrico. (Texto: Arianne Lopes / Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

Veja a galeria de fotos

  •    

    Ouvir notícia:

Programa de Linguagem Simples do TJGO