Duas horas de muita alegria, carinho, afago e brincadeiras. Este foi o clima da primeira visita humanizada do Programa Amparando Filhos, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), na comarca de Piracanjuba. O encontro, que contou com a presença das duas reenducandas em regime fechado, foi realizado na quinta-feira (8), em um clube da cidade, espaço totalmente diferente da cadeia local, nos dias de visitação. “Sabia que hoje ia receber a visita de meus filhos em um outro lugar, mas nunca imaginei que fosse num espaço tão grande assim”, afirmou a detenta e reincidente D., de 33 anos, presa por tráfico de drogas (foi encontrada com uma balança) e também por porte ilegal de arma. Sua pena é de 13 anos em regime fechado.

“Quando minha mãe chegar quero brincar de pique-pega com ela e dar muitos beijos porque estou com muita saudade”, adiantou a filha de 7 anos, da detenta C., de 40 . Ela cumpre pena de 23 anos e 6 meses, dos quais já cumpriu quase 7, por latrocínio - roubo seguido de morte. Para C., que também recebeu a visita de seus dois outros filhos, de 9 e 11 anos, o Projeto Amparando Filhos é muito bom porque, a partir de agora, terá a oportunidade de conversar com eles a sós, longe de outras detentas, como acontece na cadeia. “Hoje pude ficar sozinha com eles”, comemorou.

“Brincamos muito, pois o espaço aqui é muito bom e grande. Na cadeia, a nossa sala de visitas é muito pequena e todo mundo fica misturado. Além disso, me sentia muito mal de os meus filhos terem de me ver naquele ambiente, tão triste, tão ruim, uma cadeia”, observou a mulher.

Durante as duas horas em que esteve com os filhos, a detenta C. brincou muito com eles, correu por todo o salão e ganhou muitos beijos. Sua filha fez duas tranças no seu comprido cabelo preto. O filho mais velho sentou-se no seu colo e todos os outros se juntaram num grande abraço. As crianças contaram que não gostam do ambiente da cadeia “porque lá é muito feio e triste”. Sobre as habilidades da mãe, afirmaram que o que mais gostam é quando ela faz bauru recheado de presunto e queijo que a avó leva quando vão visitá-la na cadeia.

“Já desejava o Programa Amparado Filhos antes mesmo dele ser criado”, afirmou a mãe da reeducanda D., que tem duas filhas adolescentes, de 11 e 12 anos. As adolescentes também estiveram presentes nesta primeira visita humanizada do programa em Piracanjuba. A detenta D. ganhará o direito ao semiaberto em janeiro de 2018.

Sonho
A avó das meninas contou que sempre sonhou que surgisse um programa assim, para evitar que suas netas, que são órfãs de pai e moram com ela, tivessem de visitar a mãe na cadeia. “Lá é um ambiente muito ruim, não é lugar para crianças”, observou a dona de casa. Para ela, o Amparando Filhos é muito importante e bom e já a ajudou quando da morte recente de seu marido. “A juíza me mandou uma cesta básica, assim que soube que estava passando dificuldades. Fiquei algum tempo sem receber a aposentadoria do meu marido, mas agora já está tudo certo”, observou a mulher.

As adolescentes afirmaram também não gostar do ambiente da cadeia. “Além de ser muito quente e abafado, temos de passar pela ala masculina para chegar onde minha mãe fica. É constrangedor ser observada por aqueles homens”, ressaltaram as meninas. Para a maior, que faz o 7º ano escolar, a proposta do Amparando Filhos é muito boa. “Vou ter o privilégio de falar com minha mãe, minha irmã e minha avó sem que ninguém fique nos olhando. Na cadeia, os nossos encontros são presenciados por todos, porque o lugar é muito apertado. Eu não gosto que ninguém fique nos olhando e sabendo o que estamos conversando”, arrematou a adolescente. A irmã menor, que cursa o 6º ano, disse também ficar incomodada com toda a situação e gostou muito de poder vistar mãe em outro local. 

Surpresa boa
A mãe das meninas afirmou que foi surpreendente a vista de quinta-feira. “A surpresa chegou antes mesmo de eu me dirigir ao local do encontro. Ao invés do tradicional uniforme, trouxeram nossas roupas normais. Pensei que fosse uma reuniãozinha e não este encontro com mesas individuas para cada presa e uma mesa coberta com uma toalha de renda branca com salgados, bolos e refrigerantes”. O ambiente foi preparado pela assistente social Sandra Luzia de Oliveira e pela psicóloga Kerem Mariana de Souza, do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), parceiros neste projeto, assim como o Conselho Tutelar da cidade. As duas profissionais acham o Amparando Filhos um programa “muito interessante em sua essência, pois atinge um público já em situação de vulnerabilidade social”.

Ao fazer um balanço dos quatro meses de implantação do Amparando Filhos em Piracanjuba, a juíza Heloísa Silva Mattos (foto à direita) afirmou que o projeto está sendo muito positivo. “Ele está estruturado, mas já conseguimos alguns avanços, como doação de cestas básicas e, no Dia das Crianças, alguns padrinhos para encaminhar presentes”, contou.

A magistrada disse que ficou satisfeita com o primeiro encontro humanizado, em poder ter proporcionado esse ponto de partida. “O começo sempre é mais difícil. A primeira vez é novidade para todo mundo, mas eu acredito que a partir de agora vai engrenar e tem mais um detalhe, aqui nesta comarca, existe a Escola de Pais e estamos buscando uma parceria para que as mães que estão envolvidas nesse projeto possam frequentar os ciclos fornecidos pela instituição. Acreditamos que vai ser muito positivo no futuro, tanto para as mães quanto para as crianças, que estão sendo amparadas pelo projeto”, pontuou a diretora do Foro. (Texto: Lílian de França – Fotos: Wagner Soares :Centro de Comunicação Social do TJGO)

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