Uma paixão fulminante da vida real, nada convencional, que mais parece retirada de um livro de contos de fada. É dessa forma que pode ser descrita a história da funcionária terceirizada da creche do Poder Judiciário (Centro Educacional Infantil - CEI), Odete Oliveira Batista, de 50 anos, com Natalino Oliveira da Silva, de 72, que assim que se conheceram, dentro de um ônibus que faz o trajeto do Eixo Anhanguera, se apaixonaram à primeira vista e foram morar juntos no mesmo dia. Juntamente com outros 70 casais eles oficializaram a união de um ano durante a 3ª edição do casamento comunitário promovido nesta terça-feira (40) pela Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás (CGJGO), por meio do Programa Pai Presente. A cerimônia aconteceu na sede da Associação dos Magistrados de Goiás (Asmego).
Avó de três crianças, Odete conta que no mesmo momento em que olhou nos olhos de Natalino, que já é bisavô, teve um sentimento diferenciado, uma espécie de amor “instantâneo”. “Somos pessoas já maduras, experientes, já fui casada por 26 anos e ele por 13 anos. Nunca imaginei que pudesse encontrar o amor da minha vida dentro de um coletivo, em uma situação tão inusitada. Começamos a conversar e parecia que nos conhecíamos há anos. No mesmo dia, ele me levou para a casa dele, peguei minhas coisas no outro lugar onde morava e nunca mais nos separamos”, comenta, emocionada.
Odete, que ganhou o vestido de noiva da diretoria da creche, é natural do Piauí e Natalino, de Hidrolândia, mas o destino quis que suas vidas se cruzassem. O amor pautado no companheirismo e no respeito levou ambos a sonharem com a formalização da união. Contudo, eles não tinham condições financeiras para concretizar o sonho. No entanto, Odete acabou tendo conhecimento de que o Programa Pai Presente, da CGJGO, realizaria o casamento comunitário neste mês. “Vimos a oportunidade perfeita para realizar esse desejo e não precisaríamos pagar nada. Sou muito grata à equipe do Pai Presente que nos atendeu de forma maravilhosa e esse projeto da Corregedoria contribui para ajudar as pessoas a realizarem esse anseio, que acaba relegado por falta de recursos. O amor não tem idade e os sonhos nunca morrem nos nossos corações, mesmo que tenhamos 100 anos”, comove-se.
Já o pintor Leonardo Junio Ferreira Alves (foto à direita), de 33 anos, que se casou com a vendedora Luane Dias Araújo, de 29 anos, foi reconhecido pelo pai, que não via há 31 anos, através do programa. Presente no casamento do filho, o funcionário público aposentado, Luiz Alves Moreira, de 50 anos, extravasou todo o seu orgulho e passou a maior parte do tempo bajulando o netinho, que tem 2 anos e 2 meses, e também teve o nome do avô incluído na certidão de nascimento. “Nossa família está reunida novamente graças ao Pai Presente, esse projeto abençoado capaz de unir pais e filhos separados por tanto tempo. Fomos contemplados duplamente com esse programa: com o reconhecimento da paternidade e com o meu casamento. Nossa felicidade está completa e só temos que agradecer”, ressaltou Leonardo, que regularizou sua situação com Luane após sete anos de convivência.
A hora do sim também foi imbuída de grande emoção pelo casal Benilson Cândido da Silva Júnior, 25, e Milena Batista Muniz, 33. Benilson reconheceu as duas filhas, de 7 e 3 anos, pelo Programa Pai Presente, e as crianças puderam acompanhar de perto o casamento dos pais, cujos nomes estão devidamente inseridos no registro de nascimento, propiciando a elas todos os seus direitos legais. A iniciativa de se casar partiu de Benilson, que expressa todo o amor que sente pela companheira, oficialmente, a partir de agora, sua esposa. “Nossas filhas são fruto do nosso amor, da nossa união. Elas são nosso bem maior, uma herança única e preciosa. Estamos juntos há aproximadamente 8 anos e nesta data só formalizaremos esse amor tão raro e profundo que existe entre nós”, salientou.
Missão social
Ao analisar a importância do casamento comunitário, o corregedor-geral da Justiça de Goiás, desembargador Walter Carlos Lemes (foto abaixo), lembrou que até o momento, contando com o evento desta terça-feira, já foram realizadas pela Corregedoria três edições da cerimônia através do Pai Presente, cujo resultado final é a união de 220 casais (75 na primeira edição, 74 na segunda e 71 na terceira).
Os serviços gratuitos oferecidos tanto no casamento comunitário quanto nos reconhecimentos de paternidade pelo Pai Presente foi um dos aspectos pontuados pelo corrregedor-geral que destacou a missão social do Judiciário no contexto atual. “Por meio desses projetos, a vida das pessoas são transformadas e os laços familiares fortalecidos com celeridade, eficiência, humanidade e simplicidade. Não podemos mais ficar inertes, enclausurados nos gabinetes. A Justiça tem hoje uma grande parcela de responsabilidade social, e a Corregedoria tem trabalhado com afinco para aprimorar e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população. O Pai Presente já está instalado em todas as comarcas do Estado e já foram efetuados mais de 10 mil reconhecimentos de paternidade desde a sua implantação em Goiás. O casamento comunitário é fruto do Pai Presente e os resultados são extremamente positivos”, frisou.
Desejando felicidade aos noivos, Walter Carlos explicou que todo o trabalho para a realização do evento foi desenvolvido em parceria e esforço concentrados. “Sem a dedicação de cada um de vocês nada disso seria possível e agradeço todos os que estiveram envolvidos na concretização desse belo evento. Para os noivos, digo que o amor é uma chama que nunca se apaga e acredito que as dificuldades são podem ser superadas com carinho, cumplicidade e respeito”, ensina.
Em consonância com o corregedor-geral, a juíza Sirlei Martins da Costa, coordenadora estadual do Pai Presente, e auxiliar da Corregedoria, deixou claro que o casamento comunitário é um desdobramento do Pai Presente e falou um pouco sobre o sentimento de segurança despertado nos menores com a paternidade reconhecida, melhor ainda se acompanhado de afetividade recíproca. “O Pai Presente dá a oportunidade ao filho de não só conhecer a identidade do pai, mas de estabelecer vínculos afetivos verdadeiros. Promove a paternidade responsável, a convivência do filho com o pai e com a família paterna. Na medida em que só é possível essa proximidade afetiva com a convivência. O casamento comunitário é outro exemplo de como o fortalecimento dos laços familiares é importante para as pessoas. No final das contas, o amor supera todas as barreiras”, acentua.
Em breves palavras, a gerente administrativa do Pai Presente, Maria Madalena Sousa, que demonstrou grande satisfação por estar à frente dessa importante iniciativa da Corregedoria, dirigiu-se aos casais expondo a família como a base essencial para a formação de um indivíduo. “Nosso objetivo principal é reforçar os vínculos familiares e promover a cidadania em todos os sentidos. Realizar o sonho de vocês também é concretizar o nosso. Sabemos que muitas pessoas passam por dificuldades diversas e que o tempo é implacável. Quando percebemos lá se foram 20, 30 anos de convivência. Que vocês possam agora formar uma família completa, plena, com os alicerces do amor pautado sempre na confiança, respeito e compreensão mútua”, enfatizou.
Satisfeito com o resultado geral do casamento comunitário, Mateus Silva, delegatário do 1º Registro Civil e Tabelionato de Notas de Goiânia, responsável pela execução da cerimônia, evidenciou a importância da formalização da união dos casais através do casamento comunitário que, a seu ver, oportuniza às pessoas a realização de um sonho acalentado, muitas vezes, por anos a fio, e realçou o diálogo como ponto principal para a convivência diária. “A própria palavra casamento gera medo em alguns pela responsabilidade que impõe. Mas, aqueles que se propõem a regularizar a situação de convivência, fundamental na minha opinião, devem primar pelo diálogo sempre”, reiterou.
A solenidade foi prestigiada por magistrados, autoridades, servidores do Judiciário e imprensa em geral. Compuseram a mesa além do corregedor-geral, as juízas Sirlei Martins da Costa e Maria Socorro de Sousa Afonso Dias, diretora do Foro de Goiânia; juízes Wilson Ferreira Ribeiro, coordenador do Pai Presente em Goiânia;Cláudio Henrique Araújo de Castro, auxiliar da Corregedoria; Wilton Müller Salomão, presidente da Associação dos Magistrados de Goiás (Asmego); Maria Madalena Sousa, gerente administrativa do programa; e o cartorário Mateus Silva, delegatário do 1º Registro Civil e Tabelionato de Notas de Goiânia. Também esteve presente na solenidade a juíza Maria Cristina Costa, auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).
Alto custo
Segundo informou a equipe do 1º Registro Civil e Tabelionato de Notas de Goiânia (Cartório Mateus Silva), responsável pela execução da cerimônia, de segunda a sábado, se realizado no cartório, os custos de uma cerimônia no âmbito civil giram em torno de R$ 353, cujo valor se torna mais alto se o casal optar pela celebração do casamento em outro local. Já aos domingos, como o cartório é fechado, os gastos para o casamento civil em qualquer localidade fica entre 950 reais a 1,5 mil. Esse foi o motivo pelo qual a dona de casa Cristiane Gonçalves da Silva, 23, e o brocador Jefferson Túlio, 30, nunca conseguiram se casar, embora já estivessem morando juntos há 2 anos e já tenham um filho, fruto dessa união. A alegria e o contentamento pela ocasião tão almejada está expressa no olhar dos dois. “Nos conhecemos por meio de familiares e ficamos amigos primeiro. Com o tempo, passamos a dividir nosso sonhos, que se tornaram comuns. Decidimos morar juntos e sempre tivemos vontade de nos casar, mas o dinheiro era curto e acabamos adiando. Para nós, o casamento comunitário é a melhor cosia que poderia nos acontecer nesse momento das nossas vidas”, enterneceu.
Acostumada com os mais diversos tipos de casamento, a juíza de paz Fabiana Rodrigues da Silva Novaz, que exerce essa função há 22 anos e que assim como no ano passado foi a responsável pela celebração do casamento comunitário, enalteceu a ação que privilegia especialmente aqueles que não tem recursos financeiros para uma cerimônia desse porte. “Sabemos que o casamento é uma cerimônia muito cara, especialmente no nosso País que passa por uma situação crítica. Por essa razão, essa iniciativa é tão significativa, pois todo o trâmite legal é gratuito, incluindo as certidões de casamento. Admito que mesmo após tantos anos como juíza de paz ainda me emociono com a marcha nupcial”, engrandece.
Descontração, informalidade e sorteios marcaram a cerimônia
Em um ambiente preparado especialmente para receber os noivos, eles foram agraciados com uma mesa recheada de bem casados (doce típico para esse tipo de festividade) e recepcionados com todas as honras inerentes à cerimônia, como tapete vermelho para a entrada e a famosa marcha nupcial. Um dos momentos mais esperados foi o sorteio de um par de alianças 18 quilates, doado pelo Laboratório Biocroma, responsável pela realização dos exames de DNA do Programa Pai Presente.
A felicidade estonteante do casal sorteado, a professora Noeli Messias, 36, e o pedreiro Lorisvaldo Oliveira da Rocha, 37, contagiou todo os presentes. Classificando o fato de terem sido os ganhadores com um “sinal dos céus” para abençoar a união, Noeli e Lorisvaldo mostram as alianças já nos dedos das mãos, cujo encaixe foi perfeito, sem necessidade de ajustes. “Parece até que as alianças foram feitas para nós, sob medida. Depois de tantas dificuldades financeiras que enfrentamos com nosso filho doente, percorrendo vários Estados desse País, o nosso casamento ficou esquecido no fundo do baú. No entanto, Deus nos presenteia hoje para nos mostrar que tudo valeu a pena. O casamento comunitário superou as nossas expectativas, nunca imaginávamos que seria tão lindo assim”, sensibilizou-se.
Nesta edição do casamento comunitário foram contemplados casais que realizaram reconhecimentos de paternidade pelo Pai Presente, que prestam serviço ao Poder Judiciário ou foram indicados por algum servidor da Justiça estadual, bem como os funcionários terceirizados do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Após reunião feita com a equipe do programa, os noivos receberam um ofício com os procedimentos necessários para a habilitação do casamento e munidos da documentação específica ingressaram com o pedido no 1º Registro Civil e Tabelionato de Notas de Goiânia (Cartório Mateus Silva). Todo o trâmite legal (inclusive taxas de cartório e as certidões de casamento) foi gratuito.
Os casais já saíram com a certidão de casamento em mãos e arcaram somente com os custos das alianças e do vestuário. O casamento comunitário é direcionado tanto para aquelas pessoas que vivem em união estável quanto as que almejam se casar pela primeira vez. (Texto: Myrelle Motta - assessora de imprensa da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás/Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social do TJGO)