ciclos restaurativosCom o nome sugestivo de “Eu não sou sua”, a comarca de Luziânia promoveu uma edição especial do projeto Círculo Restaurativo voltado à vítimas de violência doméstica. Nesta quinta-feira (23), foi abordada a questão da possessividade como fator preponderante nos casos incursos na Lei Maria da Penha. A ação faz parte das atividades da 11ª edição da Semana Justiça Pela Paz em Casa.

Mediados pelos facilitadores Jairan Oliveira dos Santos e Maria Lúcia de Castro, o círculo tem objetivo de amparar e acolher mulheres, para que se sintam à vontade para compartilhar suas experiências. “A intenção é conhecer as necessidades das vítimas após o trauma sofrido e tentar fazer com que o dano seja reparado. Ao ouvir outros participantes, a pessoa não se sente sozinha e consegue visualizar saídas e fica encorajada”, explica a servidora, que tem cursos chancelados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para conduzir dinâmicas de Justiça Restaurativa.  

Jairan, que é também psicólogo, elucida a escolha da temática de possessividade para o círculo. “É um traço bem presente na violência doméstica e representa uma percepção discriminatória que coisifica a mulher, anulando sua individualidade. O relacionamento é marcado  por ciúme excessivo, desconfiança e  egoísmo. Isso advém  da cultura do machismo, que formata nossas concepções de gênero desde a infância até o presente e precisa ser continuamente combatido, no intuito de assegurar a igualdade de direitos e evitar qualquer forma de violência”.

Posse X Amor

ciclos restaurativos 2No círculo, há uma estrutura baseada no acolhimento e respeito mútuo. “Temos um roteiro prévio, mas nunca fechado, o que torna cada edição única. Existem questões norteadoras, dinâmicas e informações que se associam ao tema proposto”, destaca Jairan. Na edição desta quinta-feira (23), foram abordadas questões como “quais são as diferenças entre posse e amor”, “quais são os sinais de que alguém ama outra pessoa”, que culminaram em compartilhamentos de experiências pessoais entre as participantes.

Paula é enfermeira e, apesar de nunca ter sido agredida fisicamente, relata ter sofrido várias formas de violência dentro de seu casamento. Era privada de usar seu salário, de comprar roupas, de sair sozinha, de ter redes sociais. Seus vínculos com amigos e familiares ficaram enfraquecidos. O marido a queria apenas para ele. “Ele me queria trancada em casa. Teve uma situação que minha mãe precisou arrombar a porta do quarto. Demorei muito para tomar consciência de que era um relacionamento abusivo e que sofri violência patrimonial, emocional”.

Hoje, conseguiu se separar, mas enquanto o divórcio não sai, o marido dificulta o contato da mulher com a filha, de dois anos de idade. “Ele tenta me desestabilizar e me atingir no meu ponto mais fraco”.

O abuso emocional é conhecido também pela participante Rute, doméstica. “Não me sinto bem dentro da minha própria casa, ele me coloca para baixo. No círculo, ao ouvir os relatos, ouço que é preciso ser forte, que eu não estou sozinha, e que é preciso acordar. Decidi, hoje, sair de casa e não ser mais humilhada”, diz a mulher que está em seu segundo casamento, segundo, também, a vivenciar abusos.

Ao fim do círculo, foi perguntado às participantes como a Justiça poderia ajudar seus casos e a juíza Alice Teles de Oliveira tirou dúvidas gerais e passou orientações sobre medidas protetivas. (Texto: Lilian Cury / Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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