“Somos da etnia Javaé, da Ilha do Bananal. Minha mãe veio de lá. Ela é indígena pura, e meu pai é branco. Nós temos nomes de cristãos, mas queremos adotar nossos nomes indígenas. Temos muito orgulho da nossa origem”. A fala é da manicure Eliane Silva, de 36 anos, que teve o nome alterado para Eliane Silva Javaé por meio do Registre-se!, realizado pela Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás, em Aruanã, nesta quarta e quinta-feira, 15 e 16.
Ela contou que toda a sua geração, irmãos, filhos e sobrinhos querem exercer o direito de colocar a etnia no registro.
“Minha irmã foi ao cartório para fazer a inclusão da etnia no nome, mas que a mudança custava caro. Com essa oportunidade vamos fazer de graça”, comemorou.
Eliane Javaé mora com sua família na aldeia Deburé, em Aruanã, às margens do Rio Araguaia.
“Cada povo indígena tem sua cultura e sua língua. Hoje somos orientados e ensinados a valorizar nossas tradições. Na época da minha mãe não era assim. Muito conhecimento se perdeu ao longo do tempo”, relatou.
Inclusão
O primeiro dia do Registre-se!, em Aruanã, na manhã de quarta-feira, 15, também foi o início do processo de registro civil de Hyan Hakuari Mauri Cardoso. O bebê de seis meses foi ao fórum local acompanhado dos pais, a menor Yara e o adolescente Lucas, além da avó materna Raquel para tirar a certidão de nascimento. As mulheres são descendentes dos povos indígenas da etnia Karajá.
No início, Yara hesitou em colocar no nome da criança a etnia. “Eu repensei e agora quero colocar no nome do meu filho a nossa descendência”, disse Yara, mãe do pequeno Hyan Hakuari Mauri Cardoso Karajá. Yara é neta do cacique Raul Hawakati Mauri, da aldeia Buridina. “Fiquei triste quando minha neta não quis colocar a etnia no registro do filho. Ainda bem que ela mudou de ideia”, comemorou o líder dos Karajá em Aruanã.
Hari Lare
“Não acho muito bom nome português. Quero aproveitar a oportunidade para mudar meu nome de nascimento para Diomar. Vou adotar meu nome indígena Hari Lare”, afirmou Hari Lare Karajá, com a filha pequena no colo. “Ela é mestiça. Filha de pai branco. Então ela tem o nome do pai também”, comentou referindo-se à bebê Hare Xaua Ana Beatriz.
Hari Lare Karajá contou que mora com seu povo na aldeia Deburé. “Minha filha está aprendendo a língua indígena e o português. Fico feliz por resgatar nossa ancestralidade, e ensinar nossos costumes para as novas gerações”, afirmou.
Movimentação e regulamentação
O segundo dia dos trabalhos do Registre-se! nesta quinta-feira, 16, no fórum de Aruanã, foi movimentado pela população indígena do município, especialmente àqueles que desejavam incluir a etnia em seus documentos. Esse direito foi concedido aos povos originários no ano de 2015 com a alteração da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973).
A ação social, que, em Goiás, está sob a coordenação do corregedor-geral da Justiça de Goiás, desembargador Leandro Crispim e da juíza auxiliar Soraya Fagury, foi instituída pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para combater o sub-registro civil de nascimento no País e ampliar o acesso à documentação civil básica a todos os brasileiros em situação de vulnerabilidade.
Em Aruanã, foram oferecidos serviços como emissão de certidões de nascimento, casamento, CPF, Identidade Nacional e ID Jovem (documento gratuito virtual que possibilita ao jovem de baixa renda acesso a diversos benefícios), além de atendimentos da Defensoria Pública e do Ministério Público estaduais. (Texto: Carolina Dayrell - Centro de Comunicação Social do TJGO - Edição: Myrelle Motta - Diretora de Comunicação Social da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás – Fotos: Agno Santos - CCS)