Educar e comunicar são dois atos muito próximos. Construímos nossa percepção, nosso mundo e nossas vidas com palavras. Por essa razão, a essência da comunicação não violenta está fundamentada na cooperação dos seres humanos entre si, promovendo  o respeito, a atenção e a empatia. Essa mudança de paradigmas, que faz parte do Projeto Pilares, desenvolvido pela Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás em parceria com as redes de educação do Estado, foi realçada no 1º Encontro Virtual de Facilitadores promovida na tarde desta terça-feira (6), pela CGJGO, por meio da Divisão Interprofissional Forense.

O evento aconteceu com a presença do corregedor-geral da Justiça do Estado de Goiás, desembargador Nicomedes Domingos Borges, e da secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli. Na oportunidade, foi apresentado um painel sobre Comunicação Não Violenta na Edificação da Cultura de Paz pela idealizadora e fundadora do Restaura Restabelecendo Diálogos, Muriel Magalhães, facilitadora de comunicação Não Violenta, Círculos Restaurativos de Construção de Paz e de Líderes Servidores, e consultora da Comissão de Sistemas de Gestão de Conflitos da OAB de Niterói.

Ao abrir a reunião, o corregedor-geral enalteceu a parceria com a Secretaria Estadual de Educação, especialmente a presteza e a sensibilidade da secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli, no que considera uma verdadeira missão, que é educar para e pela paz, buscando uma comunicação não violenta, mostrando às pessoas, principalmente no âmbito escolar, que existe um outro caminho, uma solução possível.

“Nossa intenção é disseminar essa comunicação não violenta para dentro de todas as escolas com um olhar voltado para as vítimas, seus familiares e os membros da comunidade, trazendo, assim, uma compreensão diferente do conflito. A não violência permite que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós, através da reformulação da maneira pela qual nos expressamos e ouvimos o outro”, acentuou, reforçando que a CGJGO pretende expandir e aprimorar o projeto visando a construção de uma sociedade mais pacífica e humanizada.  

Expressando imensa satisfação em participar da abertura do evento, a juíza Camila Nina Erbetta Nascimento, auxiliar da CGJGO e coordenadora do Projeto Pilares, agradeceu a presença de todos e ressaltou seu entusiasmo em dar prosseguimento ao projeto, agora na modalidade virtual. “Sabemos que neste momento complexo só é possível a continuidade desse projeto de forma virtual justamente para viabilizar esse tipo de reunião que conta com tão expressivo número de pessoas”, realçou.  



A seu ver, o tem apresentado excelentes resultados, cuja finalidade precípua é a de edificar a cultura da paz nas escolas, atuando na prevenção e resolução de conflitos em ambiente escolar. “Além disso, estão entre seus objetivos, a construção de valores, redução de hostilidades, fortalecimento de relacionamentos e de vínculos, especialmente entre crianças e adolescente no ambiente escolar. E o resultado do Pilares reflete diretamente no aprendizado e na qualidade de vida desses adolescentes, crianças e também dos professores”, ressaltou.

Readequações

A magistrada explicou que o curso de facilitadores, antes ministrado presencialmente, passou por readequações para o ambiente virtual para dar continuidade às ações formativas, apesar da pandemia. “Essa readequação é muito importante, principalmente porque no atual momento essa construção de valores e fortalecimento dos relacionamentos se torna primordial, ante a tantas perdas e dificuldades não só emocionais vivenciadas por todos”, pontuou.


Por sua vez, a professora Núbia Rejane, Superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais da Seduc/GO, representando neste evento a secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli, disse se sentir honrada com essa parceria para o desenvolvimento e aprimoramento desse projeto e observou que já foram formadas três turmas na Seduc, abrangendo mais de 200 pessoas.

“Nunca foi tão necessário ter pessoas preparadas para lidar com as nossas crianças e adolescentes. Esse projeto precisa ser abraçado pela sua essência, sua necessidade de acontecer dentro das unidades escolares. Não mediremos esforços para que isso aconteça em todas as salas de aula. O Pilares desperta uma sensibilidade que não conseguimos enxergar com a sobrecarga de trabalho e nos auxilia de forma eficiente para lidar com as questões emocionais, dúvidas e medos dos alunos”, realçou.

Para Marcos Silva, gerente de Programas e Projetos Intersetoriais e Socioeducação, da Secretaria de estado da Educação, o projeto terá uma dimensão ainda maior no formato virtual. “Só temos a agradecer a confiança e a parceria”, expressou.

Justiça Restaurativa x Pilares

Já o juiz Decildo Ferreira Lopes, da Vara Criminal da Comarca de Goianésia, Gerente de Cidadania e Coordenador da Justiça Restaurativa do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do Tribunal de Justiça de Goiás, estabeleceu um parâmetro de comparação entre a Justiça Restaurativa, com a qual trabalha ativamente há anos, e o Projeto Pilares, que também ensina a compreender o conflito sob o prisma da comunicação não violenta. Segundo o magistrado, é preciso adotar uma compreensão pelo ideal restaurativo, pois todas as estatísticas demonstram que a resposta repressiva, depois que o fato já aconteceu, não surte qualquer resultado.

“Estamos sempre à frente no cumprimento das metas do CNJ, contudo, é necessário um aprimoramento na forma de se fazer Justiça, ter um outro olhar para o fenômeno criminal. Muito mais eficaz que a repressão é a prevenção. Essa também é a proposta do Pilares que somente neste espaço virtual conta com a participação hoje de 238 pessoas. Não tenho dúvida de que o crescimento desse projeto vai ajudar a projetar Goiás no cenário nacional, pela capacidade ímpar de desenvolver uma cultura de paz, restaurativa, levando o Poder Judiciário para perto da comunidade, no seio das escolas, modificando a vida das pessoas e aderindo a um modo diferente de nos relacionarmos com todos ao nosso redor”, engrandeceu.

Ao falar um pouco sobre a sua experiência como facilitador de círculos de construção de paz, implantando em Goianésia, onde atua, Decido afirmou que seu sentimento é de gratidão. “Compartilhar essa experiência com os jovens da minha comarca, dentro das escolas, com uma nova maneira de compreender e lidar com o conflito, de enxergar o  outro, é maravilhoso, incomparável, uma satisfação indescritível”, emocionou-se.
 
Também marcaram presença no evento os juízes Carlos José Limongi Sterse, do Juizado da Infância e Juventude de Anápolis, Célia Regina Lara, do Juizado da Infância e Juventude de Luziânia, Maria Antônia de Faria, da Vara dos Hipervulneráveis, e Sirlei Martins da Costa, auxiliar da Presidência do TJGO. Também participaram Helenita Neves de Oliveira e Silva Oliveira, secretária-geral da CGJGO, a assistente social Maria Nilva Fernandes da Silva Moreira, responsável pela Divisão Interprofissional Forense da CGJGO, e Clécio Marquez, diretor de Planejamento e Programas da Corregedoria, que conduziu o evento.

Autoempatia e relações interpessoais

Em sua exposição, a carioca Muriel Magalhães falou sobre a importância da autoempatia, das relações interpessoais e dos desafios da comunicação não violenta. Ela chamou a atenção para a forma como nos relacionamos nos ambientes em que estamos inseridos, bem como com as pessoas com quem convivemos, alertando para a desconstrução de pré julgamentos. “Muitos são os desafios da comunicação não violenta e a conexão verdadeira ocorre quando você está realmente presente, quando você consegue entender o motivo pelo qual está vivo e quais os sentimentos do outro que trazem sensações ruins.

“O diálogo também é desafiador, precisamos vivenciar na prática a comunicação não violenta, desconstruir essas paredes para ir ao encontro de uma comunicação com o coração, empática, compassiva, construindo, assim, uma escuta baseada na empatia,  buscando a presença nas relações, sabendo separar julgamentos, avaliações e interpretações”, reforçou.

Sobre o Pilares

Instituído em 2018, o Projeto Pilares consiste na disseminação do respeito como aspecto primordial para que sejam estabelecidos o diálogo e as relações pacificadoras na solução de conflitos dentro das escolas. Sua principal finalidade é formar facilitadores de Círculos de Justiça Restaurativa e Construção de Paz para atuarem na prevenção e resolução de conflitos no ambiente escolar, por meio de processos circulares, objetivando a disseminação da cultura de paz, a começar pela construção de valores humanos que ajudem a reduzir hostilidades, curar a dor e fortalecer relacionamentos, especialmente nas crianças e nos adolescentes dentro do ambiente escolar.

 A apresentação desta metodologia relativa ao círculo de paz aborda temáticas relativas a habilidades sociais, comunicação não-violenta, promoção do diálogo, compartilhamento e resolução de conflitos, construção de relacionamentos saudáveis, estabelecimento de vínculos, valores ética, resiliência, entre outros. O projeto advém de parcerias interinstitucionais e o curso é ministrado pela equipe de instrutoras da Divisão Interprofissional Forense da CGJGO, cujo público-alvo são os professores, coordenadores, dirigentes e tutores/apoio pedagógicos das Redes de   Educação do Estado e do Município.

A parceria com a Seduc (em nível estadual) abrange São Miguel do Araguaia, Formosa, Campos Belos, Planaltina, Itapuranga, Águas Lindas de Goiás, Caldas Novas, São Luís dos Montes Belos, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Catalão, Goiatuba, Itapaci, Itumbiara, Jussara, Minaçu, Pires do Rio, Porangatu, Quirinópolis, Uruaçu, Silvânia e Trindade. Já no âmbito municipal foram alcançados os municípios de Goiânia, Luziânia, Goianésia, Novo Gama, Itaberaí, Orizona e Cristalina.

Estatísticas positivas

Até o momento, desde 2018, foram certificados 142 facilitadores e 236 estão em formação. Do total de turmas ofertadas foram concluídas 6 e 8 estão em andamento. Aproximadamente 95 instituições foram impactadas através desta ação. Entre o público capacitado estão os profissionais da educação, professores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas, apoios pedagógicos das Coordenadorias Regionais de Redes Estaduais e Municipais, e profissionais da Gerência de Saúde do Trabalhador da SME.  

De 2018 a 2020, foram realizados, por meio do Projeto Pilares, 3.622 Círculos Restaurativos de Construção de Paz, beneficiando diretamente 15.372. Somente com esta iniciativa, forma evitados três massacres em uma escola de Luziânia (que já tinha data definida com todo um cronograma de planejamento) e dois em escolas de Goiânia. (Texto: Myrelle Motta - Diretora de Comunicação Social da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás/Fotos: Hellen Bueno - Diretoria de Planejamento e Programas da CGJGO)  

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