Você largaria tudo para viver um grande amor? Especialmente nos dias de hoje? Já dizia um antigo pensamento atribuído a Santo Agostinho: “a medida do amor é amar sem medida”. A dona de casa Alice Gomes da Silva, de 44 anos, e o caminhoneiro Wilton Correia Gomes, de 38 anos, vivem essa experiência na prática. Há exatos nove meses, Alice largou tudo, inclusive os quatro filhos que hoje residem na casa da sua mãe, para vivenciar esse amor e acompanhar o companheiro pelas estradas do País. Depois de se conhecerem nas redes sociais (facebook) e oficializarem o namoro, ela passou a morar com ele no caminhão e fizeram do veículo a “casa oficial” do casal.
Na noite de quinta-feira (23), durante o Casamento Comunitário, realizado em Aparecida de Goiânia, na Faculdade Alfredo Nasser, Alice e Wilton (foto abaixo) legalizaram essa união, após serem escolhidos para representar outros 199 casais que também se casaram na mesma cerimônia. A ação foi uma iniciativa da Diretoria do Foro da comarca de Aparecida de Goiânia com autorização da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás e parceria com a universidade. “Nos sentimos hoje as pessoas mais abençoadas do mundo. Eu queria que o relógio parasse, só para ficar aqui, olhando para o meu marido. Por ele tudo vale a pena, morar no caminhão, ficar longe dos filhos (apesar de que eles também viajam com a gente), passar pelas dificuldades. Afinal, casamento não é na alegria e na tristeza? Na saúde e na doença? Por toda a vida? Eu quero viver com o Wilton o resto dos meus dias”, declarou Alice.
O corregedor-geral da Justiça do Estado de Goiás, desembargador Kisleu Dias Maciel Filho, que fez questão de estar presente na cerimônia, ressaltou o amplo alcance social deste projeto. “Vários casamentos já foram realizados com sucesso pela Corregedoria, por meio do Programa Pai Presente, que, ao efetivar reconhecimentos de paternidade, identificou casais que tinham esse desejo de regularizar o estado civil. Casamentos comunitários hoje fazem parte da agenda do Judiciário goiano e as parcerias com os Cartórios de Registro Civil têm sido fundamentais para o êxito dessas ações de cunho social”, pontuou.
Lembrando que a Corregedoria autorizou a ação seguindo o Provimento nº 28, de 8 de agosto de 2018, que regulamentou a realização dos casamentos comunitários para os casais hipossuficientes, facilitando, assim, o exercício da cidadania, inclusive com a isenção no pagamento de todas as taxas e emolumentos referentes a este tipo de cerimônia, o corregedor-geral disse que a preocupação da Justiça vai além da regularização jurídica dessas uniões, pois consolida a missão que o Poder Judiciário tem hoje de promover a paz social. “Por meio do casamento vocês assumem um compromisso sagrado muito maior com suas famílias, consolidando suas histórias de vida. Esta ação coletiva é também uma forma de valorização das relações familiares, razão maior da estrutura da sociedade, gerando sentimentos positivos de respeito e dignidade. Que esse novo caminho, trilhado um ao lado do outro, seja de sempre de esperanças renovadas e de consolidação do amor, construído no dia a dia”, almejou.
Por outro lado, segundo acentuou o desembargador Kisleu Dias, diferentemente do que muitos casais pensam, as diferenças entre a união estável e o casamento são significativas e têm diversas implicações legais. “Diversos casais desconhecem as diferenças entre os direitos dos casados e dos não casados, e só descobrem isso nos piores momentos. Por exemplo, se o seu companheiro está em coma, você só pode gerir as contas bancárias dele por meio de uma ordem judicial. A pessoa casada possui a certidão para comprovar o matrimônio e, assim, agiliza o processo”, alertou.
Representando a comarca de Aparecida de Goiânia, o juiz Héber Carlos de Oliveira, que solicitou à CGJGO autorização para a celebração do casamento comunitário, expressou a alegria de participar de um evento tão grandioso e tradicional, que legitima, a seu ver, a verdadeira cidadania. “O casamento é uma tradição linda, resultado do amor, do respeito, da vontade de reforçar os laços familiares. Nós, do Poder Judiciário, nos fazemos presentes neste evento e sabemos que o seu êxito se deve a um esforço concentrado de todos os envolvidos nesse projeto, garantindo maior dignidade a todos os cidadãos e fortalecendo os laços familiares”, observou.
Momento de alegria
Por sua vez, o juiz Donizete Martins de Oliveira, auxiliar da Corregedoria e que também participou da solenidade, comentou sobre o momento de grande alegria e satisfação que representa o casamento comunitário e destacou a importância do Judiciário estar mais próximo da população. “A Corregedoria está aqui para prestigiar cada um de vocês, também temos uma grande parcela de responsabilidade nesta missão social”, asseverou.
Experiente nesta seara, a juíza Cássia Roberta Silva Araújo, que celebrou o casamento civil dos 200 casais conta que por ano chega a oficializar 3,5 mil cerimônias. “Esse é um momento único, o início de uma nova vida, repleta de sonhos, de amores que vão além da beleza e da juventude. É sempre emocionante para todos nós”, comove-se.
Também estiveram presentes ao evento o juiz Vanderlei Caires Pinheiro, da 2ª Vara Cível de Aparecida de Goiânia; o diretor de Planejamento de Programas da Corregedoria, Clécio Marquez; a servidora Lígia Beatriz de Bastos Carvalho, representando o secretário-geral da CGJGO, Rui Gama da Silva; o deputado federal Professor Alcides Filho, que foi patrono do casamento comunitário; o tabelião do Cartório de Registro Civil de Aparecida de Goiânia, Bruno Quintiliano Silva Vieira, além de vários representantes da Faculdade Alfredo Nasser, autoridades diversas, familiares dos noivos e imprensa em geral.
Outras histórias de amor e superação
“Que legal, papai e mamãe vão se casar e eu sou a estrelinha da festa”. A fala inocente e divertida é da pequena Rafaella, de apenas 2 anos e 11 meses, que, com grande alegria e orgulho, foi dama de honra no casamento dos pais, a dona de casa Luana Pereira Ferreira, 28, e o pedreiro Aiclo de Sousa, 29. “Já vivemos juntos há 10 anos e sempre sonhamos em nos casar, mas não tínhamos condições. Quando juntamos um dinheirinho, descobri a gravidez e tivemos inúmeros gastos e o casamento, mais uma vez, ficou para segundo plano. Mas hoje, Deus ouviu nossas preces e nossa filha será testemunha desse amor, vendo e vivenciando junto com a gente esse momento que não tem como descrever”, emociona-se Luana, entre lágrimas.
Foi aos 57 anos, depois de muitas tristezas e decepções com o primeiro casamento, que a doméstica Maria da Glória resolveu dar mais uma chance para o amor. Em uma noite com as amigas, conheceu o vigia Antônio Cosme, 50, e foi paixão à primeira vista. “Começamos a conversar e não nos desgrudamos mais, isso já faz cerca de um ano. A gente já está mais maduro, temos filhos e netos, e vivemos um amor diferente, companheiro. O casamento é sempre um sonho de quem quer começar ou recomeçar uma vida nova. Então, estamos aqui hoje celebrando nossa união, colocando tudo em ordem. Só temos a agradecer por esses momentos tão felizes”, ressaltou Antônio.
Para a realização da cerimônia, a sede da faculdade ganhou decoração especial e requintes que um casamento dos sonhos tem direito, inclusive a marcha nupcial. Todos os casais foram isentados das taxas e emolumentos decorrentes da habilitação, com anuência do Tabelião do Cartório de Registro Civil, Bruno Quintiliano Silva Vieira. O casamento no âmbito religioso foi celebrado pelos pastores Francisco Leite e Carlos Alberto Fernandes que abençoaram os noivos e os remeteram ao fato de que a família é um projeto de Deus.
Sobre o casamento comunitário
A autorização para a realização dos casamentos comunitário em Goiás segue o Provimento 28, de 8 de agosto de 2018, que regulamenta essa ação para os casais hipossuficientes, facilitando, assim, o exercício da cidadania. O provimento deixa claro que os casamentos só podem acontecer com a permissão da CGJGO, em procedimento administrativo, e enfatiza que o pedido deve ser feito com no mínimo 90 dias de antecedência da data designada para a celebração do ato, devendo ser acompanhado de todos os documentos necessários e instruído com a anuência dos oficiais de registros civil envolvidos no projeto. (Texto: Myrelle Motta – Diretora de Comunicação da Corregedoria - Geral da Justiça do Estado de Goiás/Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO) Veja galeria de fotos