A cultura da paz vai mais longe do que construir propriamente a paz. A rejeição da violência e a recuperação da esperança são a base de uma verdadeira cultura de paz, que pressupõe a resolução pacífica dos conflitos sociais e remete a uma mudança radical de paradigmas. Esse é justamente o ponto de partida do Projeto Pilares - Restaurar com Luz, construído sob alicerces sólidos, com um olhar humanizado sobre o outro, e que na última semana concluiu a formação de 32 facilitadores em Luziânia para atuarem em círculos de justiça restaurativa e de construção de paz nas redes municipal e estadual de ensino, unidades de atendimento socioeducativo e nas demais unidades da rede de proteção da comarca. O projeto é executado pela Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás por meio da Divisão Interprofissional Forense.
Para a magistrada Célia Regina Lara, o Projeto Pilares é de suma importância para a cidade, que é uma das mais violentas do estado, e se apresenta como mais uma ferramenta de trabalho na comarca e é, em verdade, uma mudança de paradigmas. “Saímos do modelo retributivo, com a mera punição, e passamos para o restaurativo com foco na reparação dos danos causados à vítima e na responsabilização do agressor, bem como na corresponsabilização da comunidade”, acentuou.
A seu ver, a intenção do Pilares é justamente criar um espaço seguro que traga luz em nossos próprios sentimentos e julgamentos, a fim de discutir questões e solucionar problemas, respeitando a individualidade e o direito de expressar o sentimento diante da realidade vivenciada, tendo como fundamento a comunicação compassiva, por meio de processos circulares, aparentemente simples, porém, a nosso ver, revolucionários. “A formação da primeira turma do Projeto Pilares é motivo de muito orgulho não só para os magistrados e servidores da comarca, mas também, para toda a população de Luziânia, pois é a primeira do interior capacitada para executar suas atividades trabalhando com círculos restaurativos de forma a contribuir para a construção de uma sociedade que supere as causas de sua violência e que converta a mentalidade de vingança e punição em diálogo, compreensão e restauração dos danos ocorridos”, frisou a magistrada.
Na opinião da diretora da Divisão Interprofissional Forense da Corregedoria, Maria Nilva Fernandes Moreira, o Pilares é uma forma de restaurar a esperança nas pessoas que desacreditaram que realmente havia uma alternativa para combater a violência desenfreada que assola o País e e estende ao âmbito escolar. “O ser humano precisa ser ouvido, ter um sentimento de pertencimento da sociedade, de restabelecimento da esperança nas suas vidas e o projeto tem esses elementos vivos nos círculos de construção de paz que trazem essa reconexão. No final das contas todos temos necessidades muito parecidas e almejamos um ambiente seguro e de paz”, realçou.
Sobre o Projeto Pilares
No ano passado, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por meio da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás, e a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, formalizaram um termo de cooperação para capacitar profissionais da Rede Municipal de Goiânia como facilitadores de Círculos de Justiça Restaurativa e de Construção de Paz. Nesta terça-feira (5), o Projeto Pilares também será estendido para a rede estadual de educação, por meio de um outro termo de cooperação com a presença do corregedor-geral da justiça do Estado de Goiás, desembargador Kisleu Dias Maciel Filho, e representantes da Secretaria Estadual de Educação, em solenidade a ser realizada às 8h30, na sede da Associação dos Magistrados de Goiás (Asmego).
O Projeto Pilares foi criado em 19 de março de 2018 e consiste na disseminação do respeito como aspecto primordial para que sejam estabelecidos o diálogo e as relações pacificadoras na solução de conflitos dentro das escolas. A valorização deste sentimento é reforçada pelos Círculos de Construção de Paz promovidos nas primeiras etapas com as equipes de apoio pedagógico das Coordenadorias Regionais de Ensino. Nos meses de agosto e setembro, o Pilares também foi implantado no interior do Estado abrangendo inicialmente as comarcas de Luziânia e Goianésia.
A apresentação desta metodologia relativa aos círculos de paz tem como ferramentas as habilidades emocionais nos relacionamentos, a comunicação não-violenta, a promoção do diálogo, o compartilhamento e resolução de conflitos, a construção de relacionamentos saudáveis, a autoresponsabilidade, o autocuidado, o estabelecimento de vínculos, o desenvolvimento da inteligência emocional e da escuta ativa, e a prevenção das diversas formas de violência, especialmente as invisíveis.
Já disseminado em várias escolas da capital, o Pilares surgiu em complemento ao Projeto Mediação Criativa de Conflitos, da SME. Entre os profissionais capacitados para atuarem como facilitadores, estão pedagogos, professores, coordenadores de ensino, psicólogos, musicoterapeutas, entre outros. (Texto: Myrelle Motta – Diretora de Comunicação da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás/Fotos cedidas pela equipe do fórum de Luziânia)