Em audiência de instrução e julgamento realizada nesta terça-feira (25), na ação penal em que responde pelos crimes de duplo latrocínio, receptação e porte ilegal de arma de fogo, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, conhecido como Cadu, assassino confesso do cartunista Glauco, surpreendeu ao afirmar: “me condena a 30 anos porque 10 é pouco”.

 

A frase foi dita após Cadu ser questionado sobre o fato de ter colocado fogo no colchão da cela em que estava preso.
O incidente ocorreu no dia 27 de julho deste ano e, devido a isso, foi-lhe aplicada medida disciplinar de isolamento e
suspensão de visitas.

O interrogatório do acusado durou cerca de uma hora e, durante a maior parte desse tempo, Cadu sorria e se recusava a responder a maioria das perguntas feitas pela magistrada, promotor de Justiça, assistente de acusação e defesa. “Nada a declarar.” “Não me lembro”, foram as frases mais usadas. Porém, ao ser questionado sobre os crimes de homicídio, ele negou e confirmou somente que dirigiu o veículo roubado de Mateus.

“Você sabia que o carro que condizia era roubado?”, indagou a juíza. “Sim”, respondeu. “Então você confirma o crime de recepção?”, perguntou outra vez. “Nada a declarar”, falou Cadu, resumidamente.

Ainda em seu interrogatório, frases como, “Eu morei com o Gasparzinho” e “Meu pai é amigo do cebolinha” foram ditas por Cadu ao ser questionado onde ele vivia antes de ser preso e sobre o seu pai. O acusado também não respondeu ao ser indagado pelo promotor de justiça, Fernando Braga Viggiano, sobre uma carta que ele teria escrito dentro do Núcleo de Custódia. “Eu não escrevi a carta, foi o Chico Xavier”, disse.

Pleitos
Após o interrogatório, a defesa requereu que seja realizada avaliação do denunciado por psiquiatra indicado pela família, considerando o agravamento da enfermidade mental de Cadu e o seu encaminhamento a uma clínica psiquiatra a fim de submetê-lo ao tratamento adequado. Já o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) solicitou que seja expedido ofício à diretoria da Polícia Civil, requisitando a complementação das investigações a fim de que revelar a autoria da pessoa que praticou em coautoria os dois latrocínios, bem como o autor intelectual da prática dos crimes contra o patrimônio.

Com relação ao requerimento da defesa em submeter o acusado a novo exame psiquiátrico, o MP discorda, uma vez que o exame de insanidade mental constante nos autos provou a imputabilidade do acusado. 

Bianca Cintra informou que terá dez dias para apreciar os pedidos e proferir a sentença.

Testemunhas
Durante a audiência, foram ouvidas seis testemunhas, todas arroladas pela acusação. Entre elas, Paula Fernanda Carvalho de Faria, namorada do estudante de Direito Mateus Pinheiro de Morais, morto aos 21 anos, durante um assalto feito por Cadu. Ela reconheceu o acusado e optou por falar na ausência dele. “Eu vi seu rosto”, afirmou, após contar detalhes do crime, que aconteceu no dia 31 de agosto de 2014.

Logo em seguida, a mãe do agente penitenciário Marcos Vinícius Lemes da Abadia, também vítima de latrocínio praticado por Cadu no dia 28 de agosto de 2014, foi ouvida em juízo. “Não me importo se ele entrar. Só quero perguntar para ele porque que ele isso com meu filho”, disse chorando.

Euriomar Joaquim da Cunha, que presenciou o momento em que o Marcos Vinícius foi baleado; o delegado de polícia civil que fez a prisão de Cadu, Thiago Damasceno Ribeiro; o policial militar Wilson Luiz Ávila Júnior e o guarda civil que também participou da prisão do acusado, Rodrigo César Costa de Moraes, todas testemunhas arrolados pela acusação, também foram ouvidas. A defesa não arrolou nenhuma testemunha.

Os crimes
De acordo com denúncia do MP, no dia 28 de agosto, por volta das 15h50, na Rua T-28, esquina com a Rua T-48, no Setor Bueno, Carlos Eduardo tentou subtrair uma Saveiro branca de propriedade do agente penitenciário Marcos Vinícius Lemes D'Abadia. A vítima flagrou o acusado forçando a porta do motorista e aproximou-se, momento em que Cadu apontou uma arma de fogo em sua direção, exigindo que se afastasse.

Consta ainda dos autos que Marcos Vinícius não acolheu a ordem do denunciado e dois iniciaram uma luta corporal, oportunidade em que Cadu disparou contra a vítima. Logo após os disparos, o acusado fugiu, com a ajuda de um comparsa que o aguardava no interior de um veículo Honda City, de cor branca. Socorrido pelo Corpo de Bombeiros, o agente penitenciário foi levado para o Hospital de Urgência de Goiás (HUGO) e morreu após 53 dias internado.

Nos autos há também a denúncia de latrocínio atribuído a Carlos Eduardo. O crime ocorreu no dia 31 de agosto, por volta das 21h30, na Praça do Colégio Ipê, também no Setor Bueno. A vítima, Matheus Pinheiro de Morais, foi abordada quando estacionou o veículo Honda Civic branco em frente ao prédio em que morava sua namorada. Segundo o MP, Cadu passou pelo local num Honda City, na companhia de uma pessoa ainda não identificada, e decidiu roubar o carro onde estava o casal.

De acordo com o MP, quando se aproximou do veículo, o acusado sacou a arma de fogo que portava e bateu no vidro por duas vezes, ordenando que a vítima e sua namorada descessem do carro e deixassem todos os pertences em seu interior. Enquanto Matheus e a jovem abriam as portas sem esboçar reação ao assalto, Carlos Eduardo disparou a arma, atingindo o rapaz. Mesmo ferida, a vítima correu na direção do prédio em busca de socorro, caindo na portaria logo após entrar no edifício. Poucos minutos depois, Matheus morreu.

Na sequência, o acusado e o comparsa entraram no veículo do rapaz e fugiram, jogando fora o celular da vítima para evitar a localização do aparelho. Na fuga, levaram ainda o Honda City que haviam deixado estacionado nas proximidades.

A denúncia também detalha a perseguição policial que acabou resultando na prisão de Cadu no dia 1º de setembro. O acusado foi visto dirigindo o Honda Civic levado de Matheus pelo delegado Thiago Damasceno Ribeiro na Avenida D, no Setor Oeste. No trajeto, o veículo era acompanhado pelo Honda City branco com características semelhantes ao carro usado pelos assaltantes no dia anterior.

Na perseguição ao veículo, o policial contou com o apoio de um guarda municipal. Carlos Eduardo acabou detido próximo ao Cepal do Jardim América. Na oportunidade, ele tentou se livrar da arma que portava, um revólver calibre 38 especial, com numeração raspada e com munição, jogando-os por cima do muro de uma oficina. Conforme os autos, a arma foi encontrada por policiais militares e o exame pericial comprovou que a bala que matou Matheus Pinheiro foi disparada deste revólver. (Texto: Arianne Lopes / Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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