O juiz Eduardo Pio Mascarenhas, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, decidiu pela pronúncia do vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha pelos homicídios de Ana Lídia de Sousa, em 2 de agosto de 2014, e Bárbara Luíza Costa, ocorrido em 18 de janeiro do mesmo ano. As duas sessões do Tribunal do Júri devem ser realizadas em maio, caso não haja interposição de recursos, conforme explicou o magistrado.

“No que concerne à autoria, vislumbro a presença de indícios suficientes de que o acusado tenha matado as vítimas”, segundo afirmou o juiz. Foram analisados as características do autor e da motocicleta, o modo semelhante de agir e o laudo da perícia técnica, que constatou que os disparos saíram da arma encontrada na residência de Tiago.

Apontado como suposto serial killer, Tiago pode ser autor de mais de 21 assassinatos – dos quais 14 já tiveram autoria confirmada, segundo exame de balística, e o restante segue em investigação pela Polícia Civil. Ele também é acusado de assaltos e tentativas de homicídios. Segundo Eduardo Pio, cada processo será julgado separadamente e, caso seja necessário, haverá também um Tribunal do Júri para cada crime contra a vida. "Não é possível juntar todas as ações em apenas um julgamento, pois cada um tem sua materialidade delitiva". O magistrado também adianta que "a tendência é a pronúncia, haja vista que ele é imputável, segundo laudo de sanidade mental, ou seja, pode responder por seus atos".

Audiências

Nesta quinta-feira (26), Eduardo Pio promoveu oito audiências sobre as mortes de Taynara Rodrigues da Cruz, Thamara Conceição, Ana Karla Lemes, Isadora Aparecida Cândida dos Reis, Lilian Sissi Mesquita, Arlete dos Anjos, Juliana Neúbia Dias e Pedro Henrique de Paula Souza. Durante as oitivas, Tiago permaneceu em silêncio. Na presença dos familiares das vítimas e de jornalistas, ele tentou esconder o rosto e abaixou a cabeça. Quando chegou escoltado ao prédio do Fórum Heitor Moraes Fleury, o acusado demonstrou bastante nervosismo, tendo, inclusive, chutado a porta de acesso à 1ª Vara Criminal.

Foram ouvidas testemunhas oculares dos crimes, parentes das vítimas e policiais que atuaram nos casos. Um dos momentos mais comoventes foi o depoimento de Gilmar Cândido dos Reis, pai de Isadora, morta no dia 1º de junho de 2014 – dias após a festa de 15 anos, numa suposta tentativa de assalto, no Setor São José.

Assim que entrou no local das audiências, Gilmar olhou fixamente para Tiago, sem desviar o olhar, até ser chamado pelo juiz para se apresentar e depor. Entre os relatos, ele contou como chegou à cena do crime e descreveu a personalidade amorosa da jovem. “Fui avisado, imediatamente após o assassinato, já que foi bem perto de nossa casa. Cheguei antes mesmo dos curiosos e vi minha filha no chão, com as pupilas dilatadas. Era uma moça educada e muito obediente. Nunca brigamos, ela nunca respondeu ou levantou a voz para ninguém. Ganhou bolsa de estudos por causa de seu desempenho excelente na escola. A única infelicidade dela foi cruzar o caminho desse homem (apontando para Tiago)”.

Magro, alto e direto

Todas as testemunhas que presenciaram os crimes relataram as mesmas características do suspeito: um homem magro, alto, que descia de uma moto e, sem hesitar, disparava sua arma com tiro certeiro contra a vítima.

O namorado de Isadora, Clayton César Júnior, afirmou que os dois foram abordados num cruzamento. Um homem desceu de uma moto, sem desligá-la, e anunciou o assalto. Contudo, antes de pegar qualquer pertence do casal, segurou firme no braço da adolescente, a virou de costas e atirou apenas uma vez fugindo logo em seguida. Segundo o sobrevivente, as características físicas do autor do assassinato batem com as de Tiago.

O assassinato do estudante de Direito Pedro Henrique também ocorreu de forma parecida. Segundo o irmão, Thiago de Souza, e o amigo, João Pedro Borges, os três estavam comendo espetinho próximo à faculdade Cambury. Um homem teria estacionado a moto na calçada, desceu do veículo e, sem falar nada, atirou, a queima roupa, na cabeça do jovem. Evadiu-se, em seguida, sem levar nada ou discutir. Era um sujeito esguio, branco e magro.

Segundo a delegada Silvana Nunes Ferreira (foto à direita), que atuou nos casos dos homicídios de Lilian Sissi e Arlete e na força-tarefa que culminou na prisão de Tiago, um dos pontos que relacionou os casos foi a falta de motivação. “Normalmente, na investigação de um homicídio, é feita uma varredura da vida das vítimas. Contudo, nesses casos não havia um motivo por trás, não eram passionais ou patrimoniais. Eram jovens que tinham a vida tranquila, sem envolvimento com drogas e ameaças”.

Durante a investigação, a polícia concluiu que o modus operandi dos crimes eram bem parecidos. “Além disso, a motocicleta de propriedade do acusado tinha características peculiares, que foram relatadas em vários casos, como o para-lama e o mata-cachorro cromados”, endossou Silvana.

A arma utilizada nos crimes foi também crucial para indicar a autoria. Segundo Silvana, o revólver encontrado na casa de Tiago, dentro de seu armário, tinha a numeração raspada. Contudo, o Instituto de Criminalística conseguiu restaurar a inscrição e verificou que o item tinha registro de posse de uma empresa de vigilância – local onde Tiago trabalhou e que, justamente, reportou o furto de uma das armas durante o plantão do acusado. (Texto: Lilian Cury/ Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social do TJGO)

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