Em depoimentos concedidos durante júri popular, os policiais militares José Arli Folha, Josué Alves da Silva, Rui Barbosa de Oliveira, Benisvaldo Santos Souza e Josué Antônio da Silva negaram autoria do crime de homicídio. A sessão, promovida nesta segunda-feira (21), é presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara.

Os réus são acusados do assassinato de João Elísio Lima e da tentativa contra a vida da mulher dele, Neuza Maria dos Santos, ocorrido em 7 de fevereiro de 2000, em Águas Lindas. Segundo o Ministério Público, João era líder comunitário e denunciava, num jornal local, supostos crimes praticados por policiais.

O julgamento está sendo realizado desde as 8h30, no auditório do 2º Tribunal do Júri, que possui maior espaço físico. O processo foi desaforado para a capital em decisão proferida no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), de relatoria do juiz substituto em segundo grau Sival Guerra Pires. Segundo o magistrado, houve ocorrência dos motivos legais que justificaram a derrogação da competência natural para o julgamento. Nos autos, estavam presentes dados suficientes para provocar a transferência do julgamento, como repercussão social, receio na população local e nas testemunhas, pelo fato de os acusados serem policiais militares, podendo usar da autoridade para influenciar os jurados.


Depoimentos

Até o momento, foram colhidos pronunciamentos dos cinco acusados, que foram unânimes ao negar a autoria do crime, motivação e conhecimento das armas de fogo utilizadas no atentado.

Primeiro a depor, Josué Alves da Silva falou que na hora do crime estava trabalhando em seu segundo emprego, numa escola, e, em seguida, teria saído para o seu terceiro trabalho do dia, como segurança em empresa privada. “Estou sentado aqui por um crime que não cometi. Estava em trabalho, como sempre fazia: das 19 horas às 22h40, no colégio e, depois, antes das 23 horas, assumi o posto de vigilante em um motel”.

Em seguida, Josué Antônio da Silva também se pronunciou. “Estava em serviço no momento do crime, em patrulhamento no setor Morada da Serra, a 10 quilômetros do local do fato”. Segundo o réu, na viatura policial estavam também os acusados Benisvaldo Souza e Rui Barbosa, que também alegaram, sequer, conhecer as vítimas. José Arli também depôs, mas, diferentemente dos colegas, afirmou estar em casa no horário do homicídio, junto de sua família. 

 

Acusação e defesa concordam que provas de acusação são frágeis

Os promotores de justiça e os advogados de defesa sustentaram o mesmo argumento em seus pronunciamentos durante júri popular dos policiais militares acusados de homicídios em Águas Lindas: são inconsistentes as provas contra os réus. José Arli Folha, Josué Alves da Silva, Rui Barbosa de Oliveira, Benisvaldo Santos Souza e Josué Antônio da Silva respondem pelo homicídio do líder comunitário João Elísio Lima e pelo atentado contra a vida da esposa da vítima, Neuza Maria dos Santos.

Representante do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), Cyro Terra Peres, narrou que a vítima tinha pretensões políticas e, por sua atuação em conselhos comunitários, havia provocado animosidade com outros integrantes adversários. "João Elísio fazia dossiês e apresentava fatos e documentos contra órgãos públicos", afirmou.

Os fatos narrados pelas testemunhas do fato também foram contestados pelo promotor de justiça. "Uma das pessoas que disse ter visto o crime descreveu-o de forma inconsistente e fantasiosa", explicou.

Segundo ele, o homem que teria presenciado o caso teve sua versão contestada pela perícia: ele havia afirmado que viu o assassinato a uma distância superior de 50 metros, num local sem iluminação, com chuva forte. Ainda conforme os autos, a testemunha afirmou que quatro homens encapuzados desceram de uma viatura - cujo modelo de carro descrito não havia na frota da corporação - e se posicionaram dois de cada lado do veículo da vítima, atirando várias vezes. "É bastante improvável que isso tenha acontecido, pois haveria fogo cruzado, podendo atingir os atiradores. Além disso, o exame mostrou que os disparos foram feitos apenas pelo lado esquerdo do veículo".

Cyro Terra Peres terminou seu pronunciamento afirmando que faltaram investigações aprofundadas na época do homicídio, opinião endossada pelo assistente de acusação Rodrigo Felix.

A defesa, em seguida, se pronunciou para frisar a ausência de provas que imputassem os réus. "Todos os policiais estavam trabalhando no momento do fato. Em patrulhamento, quando acionados, eles prestaram socorro imediato à esposa vítima, também ferida, chamaram reforço e isolaram o local. Todo o procedimento foi correto e não deixa margem para dúvidas. Eles não podem ser condenados unicamente porque exerceram seu papel e prestaram auxílio ao caso", falou o advogado Cairo Euripides de Resende. (Texto: Lilian Cury / Foto: Hernany César - Centro de Comunicação Social do TJGO)


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