O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha estava armado com um chucho (arma branca artesanal) fabricado a partir do cabo de escova de dentes antes de se dirigir à 1ª Vara Criminal de Goiânia, onde prestou depoimento às 14 horas desta segunda-feira (4), em audiência sobre o homicídio de Bruna Gleycielle de Sousa Gonçalves. O objeto foi encontrado pelos agentes penitenciários, durante revista realizada pouco antes do transporte do Núcleo de Custódia do Sistema Prisional de Aparecida de Goiânia para o Fórum Dr. Heitor de Moraes Fleury, no Setor Oeste.

A apreensão da arma foi comunicada ao juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, pelo agente prisional Moacir Crispim de Souza Júnior, pouco antes da entrada de Tiago Henrique na sala de audiências. Segundo Moacir Crispim, tudo indica que a intenção do vigilante seria ferir alguém. Ele afirmou que será aberto um procedimento disciplinar contra Tiago Henrique.

Ao juiz Jesseir de Alcântara, Tiago Henrique afirmou que estava com a arma porque se sentia ameaçado por outros presos. Contou que ia jogar fora o objeto, mas acabou “esquecendo ele dentro da cueca”. Disse que achou o cabo da escova no Núcleo de Custódia. Com relação à morte de Bruna Gleycielle, Tiago Henrique afirmou lembrar-se de pouca coisa, “apenas alguns flashes”.

No depoimento, ele afirmou que vinha de um bar no Centro, onde havia tomado bebidas alcoólicas, e parou no ponto de ônibus da Avenida T-9. Contou também que não se lembrava de ter anunciado assalto antes de atirar na vítima. Revelou que tem lembrança apenas de ter subido na moto e se dirigido para sua casa, no Conjunto Vera Cruz. Disse que ficou sabendo da morte de Bruna Gleycielle somente no dia seguinte, pela televisão.

Alexsandro Francisco de Araújo, que estava junto com Bruna Gleycielle no ponto de ônibus onde ocorreu o crime, disse ao juiz que reconheceu Tiago Henrique pelas imagens de televisão. Segundo ele, a voz e alguns traços do rosto são idênticos ao do homem que atirou na jovem. Alexsandro de Araújo contou que saiu da academia em que trabalhava com Bruna Gleycielle e estava no ponto de ônibus aguardando para irem embora para casa, quando um homem parou com a moto em cima da calçada e anunciou o assalto. No momento, estavam apenas ele e a vítima no local. Antes que pudesse entregar o celular que o assaltante havia pedido, ela levou um tiro no peito.

Alexsando de Araújo contou também que o assaltante apontou a arma para a sua cabeça, mas ele pediu para que não atirasse. O homem, então, subiu na moto e foi embora. “Ela caiu no meu colo”, disse ele, que contou ter parado o primeiro ônibus que passou e pediu ajuda. Em seguida, ligou para a academia em que trabalhavam e para a mãe de Bruna Gleycielle para avisar sobre o que havia acontecido.

Os pais de Bruna Gleycielle (foto) também prestaram depoimento. Muito emocionado, o policial militar aponsentado Clinge Gonçalves de Oliveira, pai da vítima, contou que a filha era uma jovem alegre e trabalhadora, que queria fazer faculdade de Educação Física. Já a mãe, Marlene Bernadete de Sousa Gonçalves, aos prantos e portando uma agenda com a foto da filha e do neto, lembrou-se do momento em que recebeu a ligação contando sobre o assassinato da filha.

O delegado de polícia Eduardo José do Prado, que participou das investigações sobre as mortes atribuídas a Tiago Henrique, disse ter convicção de que o vigilante é o autor de todos os homicídios. Segundo ele, as características dos crimes e o modo de agir do assassino são típicos de quem comete assassinatos em série. “Ele mantinha um padrão de comportamento nos crimes. Além disso, as imagens de câmeras de segurança, mostrando a postura ao dirigir a motocicleta, o jeito de andar e todas as características da motocicleta que utilizava comprovam que ele é o autor de todos os assassinatos”, afirmou.

Renúncia

Bruna Gleycielle foi assassinada por volta das 22h40 do dia 8 de maio de 2014, em um ponto de ônibus na Avenida T-9, no Setor Bueno. Ela havia acabado de sair da academia em que trabalhava como recepcionista, no Goiânia Shopping, e esperava pelo ônibus na companhia de Alexsandro de Araújo quando foi assassinada. As advogadas Welyta Ferreira dos Santos e Leonaine Alves de Camargo renunciaram a defesa do vigilante. Continua atuando apenas a advogada Brunna Moreno de Miranda Bernardes. Também participou da audiência desta tarde o promotor de justiça Maurício Gonçalves de Camargo.

Também foram designadas as audiências nos casos de Mauro Ferreira Nunes, para a terça-feira (5), às 13h30; e de Ana Rita de Lima (dia 5), às 14 horas; de Beatriz Cristina Oliveira Moura, dia 19 de maio, às 13h30, e de Rosirene Gualberto da Silva, dia 19 de maio, às 15 horas. Tramitam na 1ª Vara Criminal de Goiânia 21 processos envolvendo Tiago Henrique. (Texto: João Carlos de Faria/Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social)


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